O Pr. Gilson Soares dos Santos é casado com a Missionária Selma Santos, tendo três filhos: Micaelle, Álef e Michelle. É servo do Senhor Jesus Cristo, chamado com santa vocação. Bacharel em Teologia pelo STEC (Seminário Teológico Evangélico Congregacional), Campina Grande/PB; Graduado em Filosofia pela UEPB (Universidade Estadual da Paraíba); Pós-Graduando em Teologia Bíblica pelo CPAJ/Mackenzie (Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper). Professor de Filosofia e Teologia Sistemática no STEC. Professor de Teologia Sistemática no STEMES, em Campina Grande - Paraíba. Pastor do Quadro de Ministros da Aliança das Igrejas Evangélicas Congregacionais do Brasil (AIECB). Pastoreou a Igreja Evangélica Congregacional de Cuité/PB, durante 15 anos (1993-2008). Atualmente é Pastor Titular da Igreja Evangélica Congregacional em Areia - Paraíba.

9 de abril de 2021

A Oração e a Onipotência de Deus

A ORAÇÃO E A ONIPOTÊNCIA DE DEUS

Salmo 139.13-24 

Pr. Gilson Soares dos Santos 

“13 Pois tu formaste o meu interior, tu me teceste no seio de minha mãe. 14 Graças te dou, visto que por modo assombrosamente maravilhoso me formaste; as tuas obras são admiráveis, e a minha alma o sabe muito bem; 15 os meus ossos não te foram encobertos, quando no oculto fui formado e entretecido como nas profundezas da terra. 16 Os teus olhos me viram a substância ainda informe, e no teu livro foram escritos todos os meus dias, cada um deles escrito e determinado, quando nem um deles havia ainda. 17 Que preciosos para mim, ó Deus, são os teus pensamentos! E como é grande a soma deles! 18 Se os contasse, excedem os grãos de areia; contaria, contaria, sem jamais chegar ao fim. 19 Tomara, ó Deus, desses cabo do perverso; apartai-vos, pois, de mim, homens de sangue. 20 Eles se rebelam insidiosamente contra ti e como teus inimigos falam malícia. 21 Não aborreço eu, SENHOR, os que te aborrecem? E não abomino os que contra ti se levantam? 22 Aborreço-os com ódio consumado; para mim são inimigos de fato. 23 Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração, prova-me e conhece os meus pensamentos; 24 vê se há em mim algum caminho mau e guia-me pelo caminho eterno.” (Sl 139.13-24). 

INTRODUÇÃO 

1_ Sobre o Salmo 139 

1.1_ Seu autor 

A_ Deus é o Autor Soberano deste Salmo. 

1.2_ Seu escritor inspirado 

A_ Foi escrito por Davi, sob a inspiração do Espírito Santo. Davi pode ser considerado o autor humano. 

Obs.:  Um dos manuscritos da Septuaginta atribui a Zacarias a autoria deste Salmo. (Derek Kidner – Salmos 73-150 – Introdução e Comentário) 

1.3_ Seu conteúdo 

A_ O Salmo 139 nos apresenta alguns dos atributos de Deus, especialmente: 

·         A1_ A Onisciência; 

·         A2_ A Onipresença; 

·         A3_ A Onipotência. 

1.4_ Os versos 13-24 

A_ Os versos de 13 a 24 nos apresentam a Onipotência de Deus, sendo percebida em frases como: 

“... Tu formaste o meu interior...” 

“... tu me teceste no seio de minha mãe...” 

“... por modo assombrosamente maravilhoso fui formado...” 

“... as tuas obras são admiráveis...” 

“... que preciosos para mim, ó Deus, são os teus pensamentos! E como é grande a soma deles!...” 

PROPOSIÇÃO: A ONIPOTÊNCIA DE DEUS E A ORAÇÃO 

I_ A ONIPOTÊNCIA DE DEUS 

A_ A onipotência é um dos atributos de Deus. 

1..1_ Definições rápidas de onipotência 

·         Significa que Deus tem todo o poder. E pode fazer todas as coisas que for da Sua vontade. Ele pode fazer todas as coisas que decidir fazer. 

·         Significa que para Deus não há nada impossível. 

B_ Porém, Deus não fez, não faz e não fará qualquer coisa que esteja fora da Sua vontade. Ele só faz aquilo que decidir fazer. 

II_ A ONIPOTÊNCIA DE DEUS E A ORAÇÃO 

2.1_ Cuidados que precisamos ter em nossas orações 

A_ Se sabemos que Deus é todo poderoso, então: 

a)_ Não devemos orar colocando palavras que limitem Deus. 

A_ Por exemplo: 

·         “Que o Senhor possa fazer isto... “ 

·         Se o Senhor puder fazer aquilo...” 

B_ Deus pode todas as coisas (Ef 3.20,21; Gn 18.14) 

“20 Ora, àquele que é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos, conforme o seu poder que opera em nós, 21 a ele seja a glória, na igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações, para todo o sempre. Amém!” (Ef 3.20,21). 

“14 Acaso, para o SENHOR há coisa demasiadamente difícil? Daqui a um ano, neste mesmo tempo, voltarei a ti, e Sara terá um filho.” (Gn 18.14). 

“37 Porque para Deus não haverá impossíveis em todas as suas promessas.” (Lc 1.37). 

b)_ Não devemos orar com falta de fé. Pois a falta de fé pode criar obstáculo à resposta. (Tg 1.6,7) 

“6 Peça-a, porém, com fé, em nada duvidando; pois o que duvida é semelhante à onda do mar, impelida e agitada pelo vento. 7 Não suponha esse homem que alcançará do Senhor alguma coisa;” (Tg 1.6,7) 

2.2_ Confiança que precisamos ter em nossas orações 

a)_ Devemos confiar que o nosso Deus pode fazer todas as coisas. 

A_ A Bíblia diz que precisamos confiar nele, pois o mais ele fará (Sl 37.5) 

“5 Entrega o teu caminho ao SENHOR, confia nele, e o mais ele fará.” 

b)_ Devemos confiar que, se orarmos dentro da vontade do Senhor, ele nos atenderá 

A_ A Palavra nos diz que a oração feita dentro da vontade do Senhor encontrará resposta em Deus (I Jo 5.14) 

“14 E esta é a confiança que temos para com ele: que, se pedirmos alguma coisa segundo a sua vontade, ele nos ouve.” 

c)_ A bíblia nos diz que precisamos descansar nele 

A_ Aquele que confia que o nosso Deus é Todo Poderoso, certamente, descansa nele (Sl 37.7a) 

7 Descansa no SENHOR e espera nele,” 

CONCLUSÃO 

1_ Para concluir: pequenas observações 

A_ Na oração ao Deus Todo Poderoso, precisamos ficar atentos a duas coisas: 

·         A Condição

·         A Convicção 

a)_ A condição: a vontade do Senhor (I Jo 5.14,15) 

“14 E esta é a confiança que temos para com ele: que, se pedirmos alguma coisa segundo a sua vontade, ele nos ouve. (I Jo 5.14) 

b) A convicção: a certeza que ele nos atende (I Jo 5.15) 

“15 E, se sabemos que ele nos ouve quanto ao que lhe pedimos, estamos certos de que obtemos os pedidos que lhe temos feito.” (I Jo 5.15). 

2 de abril de 2021

Hamartiologia - A Doutrina do Pecado


HAMARTIOLOGIA: A DOUTRINA DO PECADO

Romanos 3.9-20 

Pr. Gilson Soares dos Santos

 

Indubitavelmente, as Escrituras Sagradas, do Antigo e do Novo Testamento, falam sobre o pecado. “Existem pelo menos oito palavras básicas para falar de pecado no Antigo Testamento e uma dúzia no Novo.” (CR)

“A existência do pecado é um fato inegável. Ninguém pode examinar sua própria natureza, nem observar a conduta de seus semelhantes, sem se ver dominado pela convicção de que existe um mal chamado pecado” (CH)

“Negativamente pecado é a falta de justiça ou de conformidade do ser humano para com a lei de Deus, e positivamente é a quebra desta lei (I Jo 3.4)” (JG)

“A doutrina do pecado é importante para nós pelo fato de ela influenciar todas as outras doutrinas e ser influenciada por elas” (ME)

Dentro da Teologia há uma disciplina denominada Hamartiologia, que trata exclusivamente sobre o pecado. O conteúdo da Hamartiologia abrange desde a origem do pecado até à condenação eterna de pecadores.

Nesse estudo introdutório, traremos uma pequena definição da disciplina de Hamartiologia seguida de conceitos sobre o pecado.

 I_ DEEFININDO HAMARTIOLOGIA

 1.1_ Hamartiologia: Definição do termo

             A Palavra Hamartiologia vem de dois termos gregos:

Hamartia: Que significa “pecado”. Embora tenha também outros significados. Mas o significado predominante desta palavra é “pecado”.

Logos: Que significa “palavra”, “estudo”, “dissertação”, “doutrina” Unindo os dois termos, podemos dizer que temos: Hamartiologia = Doutrina do Pecado. Também pode ser “Estudo sobre o Pecado”.

 1.2_ De que trata a Hamartiologia

         Hamartiologia é a parte da Teologia Sistemática que trata sobre a natureza do pecado, sua origem, consequências, magnitude, dimensão social, bem como estabelece uma relação entre a doutrina do pecado e outras doutrinas.

A Hamartiologia tem as Sagradas Escrituras como base para um entendimento amplo sobre o pecado. De maneira que, qualquer ensino sobre o pecado que ignore o que diz as Sagradas Letras não pode ser considerado Hamartiologia legítima.

Millard Erickson nos diz que o pecado pode ser abordado e estudado de diversas maneiras. Sendo assim, ele apresenta três destas abordagens sobre o pecado, a saber:

 a)_ Primeira Abordagem: Empírica ou Indutiva 

Observamos os atos praticados pelos seres humanos atualmente ou examinamos as ações dos personagens bíblicos para, então, chegar a algumas conclusões gerais sobre o comportamento dessas pessoas e sobre a natureza do pecado.(ME) 

b)_ Segunda Abordagem: O Método do Paradigma 

Selecionamos um tipo de pecado (ou um termo que descreve o pecado) e o estabelecemos como parâmetro para outros pecados. Em seguida, analisamos outros tipos de pecado (ou outros termos que o descrevem) em relação a esse modelo básico, considerando-os variações ou elucidações do nosso paradigma. (ME) 

c)_ A Terceira Abordagem: Terminologia Bíblica Referente ao Pecado 

A terceira abordagem começa com a observação de toda a terminologia bíblica referente ao pecado, surgindo uma ampla variedade de conceitos. Então examinamos esses conceitos para descobrir o elemento essencial do pecado. Este fator básico pode assim ser usado como ponto central de nossa tentativa de estudar e entender a natureza de exemplos específicos de pecado. (ME) 

II_ DEFININDO PECADO 

O Catecismo Maior de Wesrminster, na pergunta 24, traz a seguinte interrogação: O que é pecado? Em seguida o Catecismo apresenta a seguinte resposta: Pecado é qualquer falta de conformidade com a Lei de Deus, ou a transgressão de qualquer lei por ele dada como regra à criatura racional. (Rm 3.20,23; I Jo 3.4; Gl 3.10-12; Tg 4.17). 

2.1_ Duas formas de pecado 

A falta de conformidade com a Lei de Deus pode vir de duas formas: Pecado por Comissão e Pecado por Omissão. 

a)_ Pecado por Comissão 

O pecado de Comissão consiste no seguinte: Quando Deus diz em Sua Palavra para não fazermos algo e nós, em desobediência, transgredimos a sua ordem, pecamos por comissão. O pecado por Comissão é Transgressão da lei de Deus. É desobediência à Sua Palavra. Confira os seguintes textos: I Jo 3.4; Sl 106.6; Gn 3; Tg 2.9-11; Rm 1.32. 

b)_ Pecado por Omissão 

O pecado por Omissão consiste no seguinte: Quando Deus diz em Sua Palavra para fazermos algo e nós, em desobediência, não fazemos o que ele nos manda fazer, pecamos por omissão. O pecado por Omissão é falta de conformidade com a Lei de Deus. É também desobediência à Sua Palavra. Confira os seguintes textos: Tg 4.17; Lc 12.47,48; Jo 13.17; 

III_ DOIS TERMOS BÍBLICOS PARA O PECADO 

Agora nos ocuparemos em apresentar dois termos bíblicos para pecado. 

2.1_ Pecado é errar o alvo 

Em sua Teologia Sistemática, Millard Erickson nos apresenta o seguinte: 

·         “É provável que o conceito mais comum que enfatiza a natureza do pecado seja a ideia de errar o alvo”. (ME)

·         “A expressão “errar o alvo” geralmente indica um erro, não um pecado cometido intencional e conscientemente. Mas, na Bíblia, a palavra [...] subentende não um simples erro, mas uma decisão de errar, uma falha voluntária e culpável” (ME) 

Vale lembrar algo aqui: “Não somos pecadores porque erramos o alvo; erramos o alvo porque somos pecadores”. A Bíblia diz que já nascemos em pecado. 

2.2_ Pecado é transgressão 

“Pecado geralmente é definido como transgressão à lei (I Jo 3.4). Essa é uma definição correta enquanto entendermos o pecado em seu sentido mais amplo, ou seja, afastamento dos padrões estabelecidos por Deus” (CR).

Exemplo de transgressão deliberada pode ser encontrado na desobediência aos mandamentos descritos em Êxodo 20.1-17, oito dos quais começam com a palavra “Não...”

Pecado é, portanto, a transgressão da lei. Conforme podemos encontrar em algumas traduções para I João 3.4: “Pecado é iniquidade” 

IV_ DIFERENÇA ENTRE CRIME E PECADO 

“Rigorosamente falando, pecado é a violação da lei de Deus; crime é a violação da lei do Estado” (JV). Um ato pode ser ao mesmo tempo pecado e crime. Por exemplo, assassinato, roubo e perjúrio. Entretanto, existem atos que são pecados, mas não são crimes. Por exemplo, “Odiar o irmão é pecado contra Deus, mas não viola a lei do Estado, que não tem jurisdição sobre os pensamentos do homem” (JV). Por outro lado, existem atos que são crimes, mas não são pecados. Por exemplo, “Na Escócia [...] muitos pactuantes foram postos na prisão e até mortos porque reuniam-se para adorar a Deus sem o consentimento do rei. Isso foi crime porque eles violaram a lei do Estado (uma lei injusta e ímpia, nesse caso), mas não era pecado porque eles, ao fazerem isso, estavam obedecendo à lei de Deus”.(JV) 

Neste pequeno estudo, apresentamos alguns conceitos sobre o que é pecado. De igual maneira, falamos sobre a existência de uma disciplina que estuda exclusivamente o pecado e suas consequências.

Nosso estudo é apenas uma introdução ao tema, pois sabemos que o estudo sobre o pecado é algo muito profundo. No entanto, o que aqui apresentamos já nos serve de base para o que estudaremos em outras postagens. 

BIBLIOGRAFIA 

(ME)_ ERICKSON, Millard J. Teologia Sistemática. São Paulo. Vida Nova. 2015. 

(JG)_ GOMES, Joelson. A Depravação Total. Revista Crescimento Cristão. Ano IV. Nº 07. Lição 1. Recife. Aliança. s/d. 

(CH)_ HODGE, Charles. Teologia Sistemática. São Paulo. Hagnos. 2010. 

(CR)_ RYRIE, Charles C. Teologia Básica ao Alcance de Todos. São Paulo. Mundo Cristão. 2011. 

(JV)_ VOS, Johannes Geerhardus. O Catecismo Maior de Westminster Comentado. São Paulo. Puritanos. 2007.

 


16 de março de 2021

Podemos orar e cantar os salmos imprecatórios?


PODEMOS ORAR E CANTAR OS SALMOS IMPRECATÓRIOS?

Salmo 137

 

Pr. Gilson Soares dos Santos

 

“1 Às margens dos rios da Babilônia, nós nos assentávamos e chorávamos, lembrando-nos de Sião. 2 Nos salgueiros que lá havia, pendurávamos as nossas harpas, 3 pois aqueles que nos levaram cativos nos pediam canções, e os nossos opressores, que fôssemos alegres, dizendo: Entoai-nos algum dos cânticos de Sião. 4 Como, porém, haveríamos de entoar o canto do SENHOR em terra estranha? 5 Se eu de ti me esquecer, ó Jerusalém, que se resseque a minha mão direita. 6 Apegue-se-me a língua ao paladar, se me não lembrar de ti, se não preferir eu Jerusalém à minha maior alegria. 7 Contra os filhos de Edom, lembra-te, SENHOR, do dia de Jerusalém, pois diziam: Arrasai, arrasai-a, até aos fundamentos. 8 Filha da Babilônia, que hás de ser destruída, feliz aquele que te der o pago do mal que nos fizeste. 9 Feliz aquele que pegar teus filhos e esmagá-los contra a pedra.” (Sl 137).

 

INTRODUÇÃO

 1_ A importância do Livro dos Salmos

      É o livro mais lido pelos cristãos de todos os tempos. É o livro mais amado pelos cristãos.

 É a anatomia de todas as partes da alma, pois não há sequer uma emoção da qual alguém porventura tenha participado que não esteja aí representada como num espelho” (Calvino) (Salmos Vol. 1 – Editora Fiel)

      No Livro dos Salmos os crentes encontram alivio para suas angústias, expressão para seus sentimentos, vitória para suas lutas, louvores para suas alegrias.

      Se o crente pecou tem sempre um salmo para ele orar ao Senhor pedindo perdão;

      Se o crente está com medo ou angustiado ele encontrará salmos que lhe trarão alívio para sua angústia.

      Até quando é tentado tem salmos para este momento.

 

2_ A necessidade de cantarmos os Salmos

 

a)_ O povo de Deus sempre cantou os Salmos

      A nação de Israel sempre fez dos Salmos seu Hinário para adoração ao Senhor. A igreja cristã em todos os tempos usou os Salmos nos cultos. Alguns os recitavam como textos. Outros cantavam as versões métricas (os Salmos hebraicos traduzidos em poesia lírica de acordo com o feitio de cada língua e adaptados às melodias adequadas ao uso congregacional)

 

b)_ A situação mudou no século XVIII

      A partir do Século XVIII, e desde então, a prática de cantar os Salmos ou a salmodia praticamente desapareceu de vários grupos de cristãos. Muitas igrejas adotaram apenas a leitura dos salmos e buscaram cantar louvores com outros hinos.

 

c)_ É necessário cantarmos os salmos

      Mas a igreja precisa voltar a cantar os salmos. Cantar os salmos é cantar a Palavra de Deus. Embora tenhamos muitos hinos, com letras bíblicas, ainda devemos cantar também os salmos. É por isso que nosso Hinário Congregacional é chamado de Salmos e Hinos.

 

3_ A dificuldade dos Salmos Imprecatórios

      Porém, há um grupo de Salmos, chamados de “Imprecatórios” que suscitam perguntas da parte dos crentes, perguntas tais como:

 

·         Podemos cantar os salmos imprecatórios?

·         Cantar os salmos imprecatórios não fere o mandamento de Cristo de “amar os inimigos e orar pelos que nos perseguem”?

·         Se podemos cantar os salmos imprecatórios, podemos também compor hinos imprecatórios hoje em dia?

·         Se podemos cantar os Salmos imprecatórios, podemos também fazer orações imprecatórias?

 

4_ Nosso estudo

      Estudaremos o que são os Salmos Imprecatórios. Observaremos o conteúdo de alguns salmos imprecatórios. Buscaremos responder às perguntas que são feitas sobre os Salmos Imprecatórios.

 

I_ O QUE SÃO SALMOS IMPRECATÓRIOS?

 

2.1_ A divisão dos Salmos

      Os Salmos costumam receber classificações, por exemplo:


 ·         a)_ Os Salmos de Romagem (Sl 120 ao Sl 134)

 ·         b)_ Os Salmos Messiânicos ((Sl 2, 8, 16, 22, 40, 45, 68, 69, 72, 89, 109, 110, 118, 132);

 ·         c)_ Os Salmos de Aleluia (Sl 113–118, 146–150)

 ·         d)_ Os Salmos Imprecatórios (Sl 35, 37, 55, 58, 59, 69, 79, 83, 94, 109, 137, 140, 149)

 ·         e)_ Outros

 

2.2_ O que são os Salmos Imprecatórios

      No Livro do Salmos encontramos cerca de 20 Salmos que são classificados como Salmos Imprecatórios (Imprecação = Maldição; praga; desejo intenso de que algo ruim aconteça a alguém).

      Nos salmos imprecatórios o salmista pede a Deus vingança sobre os inimigos. Pede até a morte destes inimigos.

 

2.3_ Exemplos de Salmos Imprecatórios

 

a)_ O Salmo 137.7,8

 “7 Contra os filhos de Edom, lembra-te, SENHOR, do dia de Jerusalém, pois diziam: Arrasai, arrasai-a, até aos fundamentos. 8 Filha da Babilônia, que hás de ser destruída, feliz aquele que te der o pago do mal que nos fizeste. 9 Feliz aquele que pegar teus filhos e esmagá-los contra a pedra.”.

 

b)_ O Salmo 35

 “1 Contende, SENHOR, com os que contendem comigo; peleja contra os que contra mim pelejam. 2 Embraça o escudo e o broquel e ergue-te em meu auxílio. 3 Empunha a lança e reprime o passo aos meus perseguidores; dize à minha alma: Eu sou a tua salvação. 4 Sejam confundidos e cobertos de vexame os que buscam tirar-me a vida; retrocedam e sejam envergonhados os que tramam contra mim. 5 Sejam como a palha ao léu do vento, impelindo-os o anjo do SENHOR. 6 Torne-se-lhes o caminho tenebroso e escorregadio, e o anjo do SENHOR os persiga. 7 Pois sem causa me tramaram laços, sem causa abriram cova para a minha vida. 8 Venha sobre o inimigo a destruição, quando ele menos pensar; e prendam-no os laços que tramou ocultamente; caia neles para a sua própria ruína. 9 E minha alma se regozijará no SENHOR e se deleitará na sua salvação. 10 Todos os meus ossos dirão: SENHOR, quem contigo se assemelha? Pois livras o aflito daquele que é demais forte para ele, o mísero e o necessitado, dos seus extorsionários. 11 Levantam-se iníquas testemunhas e me arguem de coisas que eu não sei. 12 Pagam-me o mal pelo bem, o que é desolação para a minha alma. 13 Quanto a mim, porém, estando eles enfermos, as minhas vestes eram pano de saco; eu afligia a minha alma com jejum e em oração me reclinava sobre o peito, 14 portava-me como se eles fossem meus amigos ou meus irmãos; andava curvado, de luto, como quem chora por sua mãe. 15 Quando, porém, tropecei, eles se alegraram e se reuniram; reuniram-se contra mim; os abjetos, que eu não conhecia, dilaceraram-me sem tréguas; 16 como vis bufões em festins, rangiam contra mim os dentes. 17 Até quando, Senhor, ficarás olhando? Livra-me a alma das violências deles; dos leões, a minha predileta. 18 Dar-te-ei graças na grande congregação, louvar-te-ei no meio da multidão poderosa. 19 Não se alegrem de mim os meus inimigos gratuitos; não pisquem os olhos os que sem causa me odeiam. 20 Não é de paz que eles falam; pelo contrário, tramam enganos contra os pacíficos da terra. 21 Escancaram contra mim a boca e dizem: Pegamos! Pegamos! Vimo-lo com os nossos próprios olhos. 22 Tu, SENHOR, os viste; não te cales; Senhor, não te ausentes de mim. 23 Acorda e desperta para me fazeres justiça, para a minha causa, Deus meu e Senhor meu. 24 Julga-me, SENHOR, Deus meu, segundo a tua justiça; não permitas que se regozijem contra mim. 25 Não digam eles lá no seu íntimo: Agora, sim! Cumpriu-se o nosso desejo! Não digam: Demos cabo dele! 26 Envergonhem-se e juntamente sejam cobertos de vexame os que se alegram com o meu mal; cubram-se de pejo e ignomínia os que se engrandecem contra mim. 27 Cantem de júbilo e se alegrem os que têm prazer na minha retidão; e digam sempre: Glorificado seja o SENHOR, que se compraz na prosperidade do seu servo! 28 E a minha língua celebrará a tua justiça e o teu louvor todo o dia.” (Sl 35)

 

c)_ Salmo 69.19-28

 “19 Tu conheces a minha afronta, a minha vergonha e o meu vexame; todos os meus adversários estão à tua vista. 20 O opróbrio partiu-me o coração, e desfaleci; esperei por piedade, mas debalde; por consoladores, e não os achei. 21 Por alimento me  deram  fel  e  na minha sede me deram a beber vinagre. 22 Sua mesa torne-se-lhes diante deles em laço, e a prosperidade, em armadilha. 23 Obscureçam-se-lhes os olhos, para que não vejam; e faze que sempre lhes vacile o dorso. 24 Derrama sobre eles a tua indignação, e que o ardor da tua ira os alcance. 25 Fique deserta a sua morada, e não haja quem habite as suas tendas. 26 Pois perseguem a quem tu feriste e acrescentam dores àquele a quem golpeaste. 27 Soma-lhes iniqüidade à iniqüidade, e não gozem da tua absolvição. 28 Sejam riscados do Livro dos Vivos e não tenham registro com os justos.”

 

d)_ Salmo 109. 1-20

 “1 Ó Deus do meu louvor, não te cales! 2 Pois contra mim se desataram lábios maldosos e fraudulentos; com mentirosa língua falam contra mim. 3 Cercam-me com palavras odiosas e sem causa me fazem guerra. 4 Em paga do meu amor, me hostilizam; eu, porém, oro. 5 Pagaram-me o bem com o mal; o amor, com ódio. 6 Suscita contra ele um ímpio, e à sua direita esteja um acusador. 7 Quando o julgarem, seja condenado; e, tida como pecado, a sua oração. 8 Os seus dias sejam poucos, e tome outro o seu encargo. 9 Fiquem órfãos os seus filhos, e viúva, a sua esposa. 10 Andem errantes os seus   filhos   e   mendiguem;   e sejam expulsos das ruínas de suas casas. 11 De tudo o que tem, lance mão o usurário; do fruto do seu trabalho, esbulhem-no os estranhos. 12 Ninguém tenha misericórdia dele, nem haja quem se compadeça dos seus órfãos. 13 Desapareça a sua posteridade, e na seguinte geração se extinga o seu nome. 14 Na lembrança do SENHOR, viva a iniqüidade de seus pais, e não se apague o pecado de sua mãe. 15 Permaneçam ante os olhos do SENHOR, para que faça desaparecer da terra a memória deles. 16 Porquanto não se lembrou de usar de misericórdia, mas perseguiu o aflito e o necessitado, como também o quebrantado de coração, para os entregar à morte. 17 Amou a maldição; ela o apanhe; não quis a bênção; aparte-se dele. 18 Vestiu-se de maldição como de uma túnica: penetre, como água, no seu interior e nos seus ossos, como azeite. 19 Seja-lhe como a roupa que o cobre e como o cinto com que sempre se cinge. 20 Tal seja, da parte do SENHOR, o galardão dos meus contrários e dos que falam mal contra a minha alma.”

 

     Prestem atenção às expressões imprecatórias:

 

      “Ó Deus, quebra-lhes os dentes na boca” (Sl 58.6);

      “Consome-os com indignação, consome-os, de sorte que jamais existam” (Sl 59.13);

      “Filha da Babilônia, que hás de ser destruída, feliz aquele que te der o pago do mal que nos fizeste. Feliz aquele que pegar teus filhos e esmagá-los contra a pedra.” (Sl 137.8-9);

      “Caiam sobre eles brasas vivas, sejam atirados ao fogo” (Sl 140.10).

      “8 Os seus dias sejam poucos, e tome outro o seu encargo. 9 Fiquem órfãos os seus filhos, e viúva, a sua esposa. 10 Andem errantes os seus filhos e mendiguem; e sejam expulsos das ruínas de suas casas”. (109.8-10)

 

     Dentro de muitos outros Salmos encontramos versículos com imprecações. Veja essa lista:

 5.10; 6.10; 7.6; 9.19-20; 10.2, 15; 17.13; 28.4; 31.17-18; 35.1, 4-8, 19 e 24-26; 40.14-15; 41.10; 54.5; 55.9,15; 56.7; 58.6-10; 59.5,11-14; 63.9-10; 68.1-2; 69.22-28; 70.2-3; 71.13; 79.6,10-12; 83.9-18 (ver Jz 4.15-21; 5.25-27); 94.1-4; 97.7; 104.35; 109.6-19, 29; 119.84; 129.5-7; 137.7-9; 139.19-22; 140.8-11; 141.10; 143.12. 17.

      Não somente nos Salmos, mas em muitos outros textos encontramos imprecações.

 

II_ PODEMOS ORAR E CANTAR OS SALMOS IMPRECATÓRIOS?

 

2.1_ Os Salmos Imprecatórios dividem opiniões

      Os Salmos imprecatórios sempre dividiram a interpretação dos cristãos.

      Há aqueles que os veem com naturalidade, são inspirados e as orações ali são legítimas.

      Por outro lado, há muitos pastores e teólogos cristãos que os veem como uma oração errada do salmista.

      Vejamos alguns exemplos de cristãos que se posicionaram contra o uso dos imprecatórios:

 

2.2_ Cristãos que se posicionaram contra o uso dos Salmos Imprecatórios

 

a)_ C. S. Lewis

      Um dos escritores cristãos que se posicionou contra os Imprecatórios foi C. S. Lewis. Ele disse:

      “Em alguns dos Salmos, o espírito de ódio com o qual nos defrontamos é como o calor da boca de uma fornalha. “o ódio está presente — supurando, exultando com a desgraça alheia”. (C. S. Lewis – Lendo os Salmos – Ed. Ultimato).

      No Salmo 23.5 está escrito: “5 Preparas-me uma mesa na presença dos meus adversários, unges-me a cabeça com óleo; o meu cálice transborda.”

      Veja o que C. S. Lewis diz o seguinte sobre este versículo do Salmo 23:

 “O prazer do poeta em sua prosperidade momentânea não seria completo, a menos que aqueles inimigos horrendos  — que costumavam olhá-lo com desprezo — estivessem assistindo àquilo tudo e odiando. [...] Sua mesquinhez e vulgaridade, especialmente no contexto em que está inserida, são difíceis de suportar” (C.S. Lewis – Lendo os Salmos – Ed. Ultimato).

 

b)_ Isaac Watts

      Isaac Watts também se posicionava contra os Salmos Imprecatórios. Qual a história de Isaac Watts? Vejamos um pouco sobre ele.

      Isaac Watts cresceu numa época em que nas igrejas se cantavam apenas os Salmos. Ele achava essa prática monótona. Pois percebia que faltava alegria e emoção nos fiéis enquanto cantavam.

 

“Ver a indiferença maçante, o ar negligente e desatencioso estampado nas faces de toda a congregação enquanto um salmo está em seus lábios, pode fazer com que um piedoso observador seja tentado a duvidar do fervor de sua fé.” (Isaac Waats) (https://www.sibgoiania.org/midia/2020/01/06_09_2017-Q-050_Sl35_PARTE1_Ninguem_se_compara_ao_Senhor.pdf, acesso em 17/02/2021).

 

     Sendo assim,  resolveu  dar uma nova roupagem aos salmos, compondo hinos, parafraseando os Salmos.

      O que Watts fez? Ele parafraseou os Salmos omitindo as partes imprecatórias.

 

Em sua “imitação dos Salmos de Davi”, ele omitiu muitas partes, grandes trechos, justamente os trechos que ele julgou não serem compatíveis com a linguagem do Novo Testamento. Ele tentou “melhorar” a linguagem dos Salmos e adaptá-los ao culto cristão; ele descaracterizou os Salmos — sua versão dos Salmos não reflete o pensamento do Salmo original. Isaac Watts disse que “ele fazia Davi falar como um cristão. Ele desnaturalizou os Salmos, e os sofisticou. Watts falhou completamente em apreciar a real beleza do Saltério”. (Pb. Rikison Moura) (O que faremos com os salmos imprecatórios)

 

     Segundo ele, os salmos imprecatórios fazem oposição ao espírito do evangelho. Pois Jesus manda amar os inimigos e orar pelos que nos perseguem. Pois Jesus nos diz que se alguém bater numa face devemos dar a outra. Pois Jesus diz que se alguém nos tirar a capa, demos-lhe também a túnica. Por isso ele quis harmonizar os Salmos de Davi com o Evangelho. Como se a Escritura estivesse se contradizendo.

 

c)_ Outras alegações dos opositores aos imprecatórios

      Muitos alegam que se podemos cantar os Salmos Imprecatórios, então podemos cantar hinos imprecatórios, tipo, “sabor de mel”. Se podemos cantar os imprecatórios, podemos compor músicas amaldiçoando o inimigo, desejando-lhe o mal.

      Será que os opositores dos Salmos Imprecatórios têm razão? É preciso um estudo minucioso sobre o tema.

 

2.3_ Cristãos que se posicionaram a favor do uso dos Salmos Imprecatórios

 

a)_ A posição reformada

 

(1)_ Pergunta: O que significa posição reformada?

(2)_ Resposta: Quando falamos em “Posição Reformada” nos referimos às Igrejas e Pregadores que estão em harmonia com a Reforma Protestante e com a posição bíblica dos reformadores.

(3)_ Pergunta: Qual é a posição dos reformadores sobre cantar os salmos imprecatórios?

(4)_ Resposta: A posição dos cristãos reformados é de que nós podemos, sim, cantar os Salmos Imprecatórios.

(5)_ Pergunta: Os Reformados apresentam argumentos para o uso dos Salmos Imprecatórios?

 (6)_ Resposta: É claro que os Pastores, Teólogos e demais cristãos reformados não ficam apenas na teoria, apresentam muitos argumentos sobre isto.

(7)_ Pergunta: Quais são os argumentos usados pelos Reformados?

[(8)_ Resposta: No Tópico a seguir veremos a posição reformada sobre o uso dos Salmos Imprecatórios.

 

III_ POSIÇÃO REFORMADA SOBRE O USO DOS SALMOS IMPRECATÓRIOS

      Vejamos a posição Reformada sobre cantar os Salmos Imprecatórios:

 

3.1_ Não há problema algum em cantarmos os Salmos Imprecatórios

 

a)_ Primeiro: No Novo Testamento há uma recomendação para que os Salmos sejam cantados

 ·         Efésios 5.19

 

“19 falando entre vós com salmos, entoando e louvando de coração ao Senhor com hinos e cânticos espirituais,” (Ef 5.19)

 

     Veja que o apóstolo, ao mostrar uma reunião cristã, apresenta a edificação através dos Salmos.

 ·         Colossenses 3.16

 

“16 Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão, em vosso coração.” (Cl 3.16).

 

     Mais uma vez os salmos presentes nas reuniões do povo cristão.

 ·         I Coríntios 14.15,26

 

“15 Que farei, pois? Orarei com o espírito, mas também orarei com a mente; cantarei com o espírito, mas também cantarei com a mente. 26 Que fazer, pois, irmãos? Quando vos reunis, um tem salmo, outro, doutrina, este traz revelação, aquele, outra língua, e ainda outro, interpretação. Seja tudo feito para edificação.” (I Co 14.15,26).

 

     Percebam que o povo de Deus cantava com o Espírito, conforme encontramos no versículo 15.


 B_ Pergunta: O que eles cantavam?

 C_ Resposta: Eles cantavam os salmos, conforme o verso 26. Era assim a reunião de adoração e edificação dos cristãos.

 

b)_ Segundo: Os Salmos Imprecatórios foram citados no Novo Testamento

 

·         (1)_ Salmo 69.24,25 Citado em Atos 1.18-20

 

Salmo 69.24,25

 “24 Derrama sobre eles a tua indignação, e que o ardor da tua ira os alcance. 25 Fique deserta a sua morada, e não haja quem habite as suas tendas.” (Sl 69.24,25)

 

Atos 1.18-20

 “18 (Ora, este homem adquiriu um campo com o preço da iniqüidade; e, precipitando-se, rompeu-se pelo meio, e todas as suas entranhas se derramaram; 19 e isto chegou ao conhecimento de todos os habitantes de Jerusalém, de maneira que em sua própria língua esse campo era chamado Aceldama, isto é, Campo de Sangue.) 20 Porque está escrito no Livro dos Salmos: Fique deserta a sua morada; e não haja quem nela habite; e: Tome outro o seu encargo.” (At 1.18-20)

 

·         (2)_ O Salmo 109.8 citado em At 1.20)

 

Salmo 109.8

 “8 Os seus dias sejam poucos, e tome outro o seu encargo.” (Sl 109.8).

 

Atos 1.20

 “20 Porque está escrito no Livro dos Salmos: Fique deserta a sua morada; e não haja quem nela habite; e: Tome outro o seu encargo.” (At 1.20).

 

     Veja que em Atos 1.20 são mencionados dois Salmos Imprecatórios: Sl 69.24,25 e o Sl 109.8

 

·         (3)_ Salmo 2.1-5 citado em Atos 4.24-29

 

Salmo 2.1-5

 “1 Por que se enfurecem os gentios e os povos imaginam coisas vãs? 2 Os reis da terra se levantam, e os príncipes conspiram contra o SENHOR e contra o seu Ungido, dizendo: 3 Rompamos os seus laços e sacudamos de nós as suas algemas. 4 Ri-se aquele que habita nos céus; o Senhor zomba deles. 5 Na sua ira, a seu tempo, lhes há de falar e no seu furor os confundirá.” (Sl 2.1-5)

 

Atos 4.24-29

 “24 Ouvindo isto, unânimes, levantaram a voz a Deus e disseram: Tu, Soberano Senhor, que fizeste o céu, a terra, o mar e tudo o que neles há; 25 que disseste por intermédio do Espírito Santo, por boca de Davi, nosso pai, teu servo: Por que se enfureceram os gentios, e os povos imaginaram coisas vãs? 26 Levantaram-se os reis da terra, e as autoridades ajuntaram-se à uma contra o Senhor e contra o seu Ungido; 27 porque verdadeiramente se ajuntaram nesta cidade contra o teu santo Servo Jesus, ao qual ungiste, Herodes e Pôncio Pilatos, com gentios e gente de Israel, 28 para fazerem tudo o que a tua mão e o teu propósito predeterminaram; 29 agora, Senhor,   olha   para   as   suas ameaças e concede aos teus servos que anunciem com toda a intrepidez a tua palavra,” (At 4.24-29).

 

(4)_ Salmo 110.1,2 citado em Mateus 22.42-44

 

Salmos 110.1,2

 “1 Disse o SENHOR ao meu senhor: Assenta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos debaixo dos teus pés. 2 O SENHOR enviará de Sião o cetro do seu poder, dizendo: Domina entre os teus inimigos.” (Sl 110.1,2).

 

Mateus 22.42-44

 “42 Que pensais vós do Cristo? De quem é filho? Responderam-lhe eles: De Davi. 43 Replicou-lhes Jesus: Como, pois, Davi, pelo Espírito, chama-lhe Senhor, dizendo: 44 Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos debaixo dos teus pés?” (Mt 22.42-44).

      Veja que o Senhor Jesus citou este Salmo sem nenhum problema. Se os salmos imprecatórios não são para serem citados, por que o Senhor Jesus fez uso deles? Isto prova que não há problema em citá-los.

 

c)_ Terceiro: Os Salmos Imprecatórios são inspirados, pois toda a Escritura é inspirada

      Toda a Escritura é inspirada. Conforme conferimos nos seguintes textos:

 

II Timóteo 3.16,17

 “16 Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, 17 a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra.” (II Tm 3.16,17).

 

II Pedro 1.20,21

 “20 sabendo, primeiramente, isto: que nenhuma profecia da Escritura provém de particular elucidação; 21 porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana; entretanto, homens [santos] falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo.” (II Pe 1.20,21)

 

d)_ Jesus autenticou os salmos, sem exceção

 

Lucas 20.41,42

 “41 Mas Jesus lhes perguntou: Como podem dizer que o Cristo é filho de Davi? 42 Visto como o próprio Davi afirma no livro dos Salmos: Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita,” (Lc 20.41,42)

 

Lucas 24.44

 “44 A seguir, Jesus lhes disse: São estas as palavras que eu vos falei, estando ainda convosco: importava se cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos.” (Lc 24.44).

 

e)_ Davi, ao afirmar que Deus falava por seu intermédio, lança imprecações

 

II Samuel 23.1-7

 “1 São estas as últimas palavras de Davi: Palavra de Davi, filho de Jessé, palavra do homem que foi exaltado, do ungido do Deus de Jacó, do mavioso salmista de Israel. 2 O Espírito do SENHOR fala por meu intermédio, e a sua palavra está na minha língua. 3 Disse o Deus de Israel, a Rocha de Israel a mim me falou: Aquele que domina com justiça sobre os homens, que domina no temor de Deus, 4 é como a luz da manhã, quando sai o sol, como manhã sem nuvens, cujo esplendor, depois da chuva, faz brotar da terra a erva. 5 Não está assim com Deus a minha casa? Pois estabeleceu comigo uma aliança eterna, em tudo bem definida e segura. Não me fará ele prosperar toda a minha salvação e toda a minha esperança? 6 Porém os filhos de Belial serão todos lançados fora como os espinhos, pois não podem ser tocados com as mãos, 7 mas qualquer, para os tocar, se armará de ferro e da haste de uma lança; e a fogo serão totalmente queimados no seu lugar.” (II Sm 23.1-7).

 

     Isto nos mostra que ao lançar as imprecações, Deus falava por intermédio de Davi.

 

IV_ PODEMOS, NOS DIAS DE HOJE, LANÇAR IMPRECAÇÕES?

 

4.1_ O mandamento bíblico é amar o inimigo

 

Mateus 5.43-44

 “43 Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. 44 Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem;”

 

Lucas 6.27,28,35

 ‘27 Digo-vos, porém, a vós outros que me ouvis: amai os vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam; 28 bendizei aos que vos maldizem, orai pelos que vos caluniam. 35 Amai, porém, os vossos inimigos, fazei o bem e emprestai, sem esperar nenhuma paga; será grande o vosso galardão, e sereis filhos do Altíssimo. Pois ele é benigno até para com os ingratos e maus.” (Lc 6.27,28,35)

 

4.2_ O mandamento bíblico é fazer o bem ao inimigo

 

Romanos 12.19-21

 “19 não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira; porque está escrito: A mim me pertence a vingança; eu é que retribuirei, diz o Senhor. 20 Pelo contrário, se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas vivas sobre a sua cabeça. 21 Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem.” (Rm 12.19-21).

 

4.3_ Podemos entregar ao Senhor para punição dos inimigos

 

     Embora não possamos nos vingar, encontramos no Novo Testamento situações nas quais foi preciso a punição dos inimigos

 

a)_ Quando sofremos ataques por sermos cristãos

 

·         I Timóteo 1.19-20

 “19 mantendo fé e boa consciência, porquanto alguns, tendo rejeitado a boa consciência, vieram a naufragar na fé. 20 E dentre esses se contam Himeneu e Alexandre, os quais entreguei a Satanás, para serem castigados, a fim de não mais blasfemarem.” (I Tm 1.19-20)

 

·         II Timóteo 4.14-15

 “14 Alexandre, o latoeiro, causou-me muitos males; o Senhor lhe dará a paga segundo as suas obras. 15 Tu, guarda-te também dele, porque resistiu fortemente às nossas palavras.” (II Tm 4.14-15)

 

     Veja que o apóstolo diz: “O Senhor lhe dará a paga”, ou seja, ele entrega ao Senhor para que o inimigo seja punido. Isso quer dizer que ele desejou que o inimigo fosse punido pelo Senhor.

 

·         Apocalipse 6.9-10

 “9 Quando ele abriu o quinto selo, vi, debaixo do altar, as almas daqueles que tinham sido mortos por causa da palavra de Deus e por causa do testemunho que sustentavam. 10 Clamaram em grande voz, dizendo: Até quando, ó Soberano Senhor, santo e verdadeiro, não julgas, nem vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra?”

 

     Veja que os crentes que foram mortos por causa do Evangelho estão pedindo vingança. Eles estavam pedindo o julgamento de Deus sobre os inimigos. É claro que não era o momento. A resposta do Senhor mostra isso.

 

b)_ Contra aqueles que trazem prejuízos ao cristianismo

 

·         Gálatas 5.10-12

 “10 Confio de vós, no Senhor, que não alimentareis nenhum outro sentimento; mas aquele que vos perturba, seja ele quem for, sofrerá a condenação. 11 Eu, porém, irmãos, se ainda prego a circuncisão, por que continuo sendo perseguido? Logo, está desfeito o escândalo da cruz. 12 Tomara até se mutilassem os que vos incitam à rebeldia.” (Gl 5.10-12).

 

     Veja qual o desejo de Paulo sobre aqueles que perturbavam os Gálatas. Ele desejava que fossem mutilados. O que é mutilar? É cortar, amputar, decepar, aleijar. Então, Paulo lança aqui uma imprecação.

 

·         I Coríntios 16.21-22

 “21 A saudação, escrevo-a eu, Paulo, de próprio punho. 22 Se alguém não ama o Senhor, seja anátema. Maranata!” (I Co 16.21-22)

 

     Anátema quer dizer “maldito ou amaldiçoado”. Paulo diz que quem não ama ao Senhor seja maldito.

 

·         Atos 13.8-11

 “8 Mas opunha-se-lhes Elimas, o mágico (porque assim se interpreta o seu nome), procurando afastar da fé o procônsul. 9 Todavia, Saulo,  também chamado Paulo, cheio do Espírito Santo, fixando nele os olhos, disse: 10 Ó filho do diabo, cheio de todo o engano e de toda a malícia, inimigo de toda a justiça, não cessarás de perverter os retos caminhos do Senhor? 11 Pois, agora, eis aí está sobre ti a mão do Senhor, e ficarás cego, não vendo o sol por algum tempo. No mesmo instante, caiu sobre ele névoa e escuridade, e, andando à roda, procurava quem o guiasse pela mão.”

 

      Veja que Paulo está cheio do Espírito Santo. Mesmo assim ele invoca o castigo sobre Elimas, e acontece. Paulo não está odiando, pois se assim fosse não estaria cheio do Espírito. Entretanto, cheio do Espírito Santo, ele invoca o castigo sobre o inimigo da Palavra de Deus. Isso nos mostra que há momentos em que é preciso uma punição sobre os que militam contra o cristianismo, contra a Palavra do Senhor.

 

      Vejamos o que nos diz Calvino sobre esse episódio:

 

“E para que ninguém pense que Paulo estava excessivamente irado, Lucas diz claramente que a inspiração do Espírito foi seu guia. Portanto, esse ardor do zelo não só não deve ser repreendido, mas deve amedrontar os profanos condenadores de Deus, que não temem rebelar-se contra sua palavra;       visto       que      este julgamento é dado sobre todos eles, não por um homem mortal, mas pelo Espírito Santo, pela boca de Paulo.” (João Calvino) (Comentários Bíblicos de João Calvino – Novo Testamento).

 

CONCLUSÃO

 

     Para conclusão, respondamos a três perguntas:

 

1_ Podemos cantar os Salmos Imprecatórios?

      Podemos, sim. Eles são salmos inspirados.

 

2_ Podemos nos dias de hoje lançar imprecações?

      A Bíblia nos diz que devemos amar aos inimigos. Porém, há situações em que precisamos apresentar diante do Senhor um pedido de intervenção sobre nossos inimigos, os quais são inimigos do Evangelho. Porém, isso não dá autoridade ao crente para sair por aí amaldiçoando os seus desafetos.

 

3_ Com base nos Salmos Imprecatórios, podemos compor músicas com imprecações?

      Os Salmos foram inspirados pelo Espírito Santo. A composição de músicas cristãs hoje não tem a mesma inspiração das Escrituras.

 

     Portanto, não podemos nos valer dos Salmos Imprecatórios para a composição de músicas com maldições sobre os inimigos.