ORIGENS DA MÚSICA GOSPEL
Hoje em dia, é muito comum ouvirmos a palavra
“Gospel”. É um tal de “caderno gospel”, “CD Gospel”, “Lanchonete Gospel” e até
“brinquedo Gospel”! Todo mundo está usando a linguagem do “Gospel”! Mas o que
será isso? De onde surgiu e o que significa?
1 –
Explicando a Palavra “Gospel”
A utilização atual está tão diversificada,
que pode criar uma certa dúvida a quem não conhece a origem da palavra.
“Gospel” vem da língua inglesa e quer dizer “Evangelho”. Pode também ser traduzido como Credo e Evangelizar. É a junção de duas outras palavras: God (Deus) e Spell (palavra soletrada), com o sentido de “Palavra de Deus”.
A popularização deste termo, fez com que hoje
ele estivesse relacionado a qualquer estilo musical, que tenha letras e
compositores cristãos. Entretanto, o início da música Gospel foi desenvolvido
por negros norte-americanos, a partir do séc. 17.
2 –
Tudo Começou na América do Norte
Durante o século 16, os norte-americanos
tentaram colocar os índios para trabalhar na lavoura como escravos. Não tiveram
resultado positivo. Buscando solucionar este problema, no início do séc. 17 os
americanos trouxeram negros da África e estes se adaptaram melhor ao trabalho
das lavouras, mesmo sob condição de escravidão.
Os negros eram sequestrados de suas tribos na
África, separados de suas famílias e trazidos em condições subumanas em navios
negreiros, para a América. Os que sobreviviam à viagem eram vendidos como
animais de carga para os donos das fazendas. Eram obrigados a trabalhar o dia
todo, sendo chicoteados a todo o momento, tendo uma ração de água e comida
limitada, apenas para que se mantivessem vivos.
Por causa da escravidão, os negros cantavam e dançavam nas poucas horas de
descanso (as “Dance Songs”) ou
cantavam uma música mais ritmada, para marcar a velocidade do trabalho que
faziam na lavour (as “Work Songs” ou “Labor”). A princípio a música era
cantada em dialeto africano. Depois com o ensino do inglês, muitas vezes feito
por igrejas protestantes, para evangelizarem os negros, estes passaram a cantar
também no idioma dos americanos.
Muitos desses escravos que foram
evangelizados se converteram. Mas o fato de serem convertidos a Jesus, não lhes
dava o direito de estarem libertos do trabalho escravo. Era estranho e
incoerente, pois o cristianismo é contra a acepção de pessoas (At 10.34; Rm 2.11; Ef 6.9; Tg 2.1,9; I Pe
1.17). A Bíblia é clara em dizer que, diante de Deus não pode haver “escravo ou livre, mas Cristo deve ser tudo
em todos” (Cl 3.10,11). Continuaram sofrendo, sendo maltratados por seus
patrões e, vários deles, só viam a possibilidade do fim deste sofrimento quando
morressem e estivessem com Jesus.
Os negros convertidos compunham e cantavam
músicas com teor bíblico, mostrando suas esperanças de uma vida melhor no céu.
Expressavam suas angústias e o amargor da escravidão. Estes eram os “Spirituals Songs” ou “Negro Spiritual”.
New Orleans tornou-se o centro de importação
de escravos e berço da música folclórica
negra americana de 1600 a 1800. Em 1970, a Universidade Fisk levou os
cantores negros do coral jubilee a fazer exibições por cidades dos EUA e da Europa.
A partir de então, a música Gospel começou a se tornar popular.
3 – A
Música Usada em Movimentos Evangelísticos (século 19)
Os brancos também dera a sua contribuição
para a música Gospel naquela época. Em 1857, após um dos maiores pânicos
econômicos dos EUA, com grandes quebras financeiras, aconteceu um fervor
evangelístico, que se denominou O Grande
Despertamento. Conferências em todo o país, realizadas pelo grande
evangelista D. L. Moody e as
composições de I. D. Sankey,
divulgaram e fortaleceram as Gospel
Songs.
Algumas características dessas músicas: eram
músicas simples, para serem cantadas pelas massas, em Campanhas Evangelísticas;
músicas fáceis de aprender, com refrão repetitivo; a linha melódica, apoiada
por uma simples progressão harmônica, com o menor número possível de mudanças
de acordes; textos leves e claros, sem muita profundidade doutrinária,
atendendo-se à necessidade de comunicar a salvação em Cristo. Muitos dos hinos
compostos para estes avivamentos, fazem parte dos hinários evangélicos de
muitas denominações evangélicas, até hoje.
4 –
Influência da Música Gospel
A musicalidade negra influenciou fortemente
toda a música americana, seja ela cristã ou secular. Vários estilos musicais
começaram a aparecer nos EUA a partir do século 19, dando origem ao que hoje
conhecemos como “Música Pop” (popular): “Ragtime”
(música fortemente sincopada), “Blues”
(música triste e lenta), “Country and
Western” (música caipira americana”, “Rhythm
and Blues” (blues mais ritmado), “Soul
Music” (música carregada de emoções), “Gospel
e Spirituals” (adaptação mais ritmada de hinos tradicionais), “Jazz” (música cheia de improvisações)
e outros ritmos.
No séc. 20, com o evento das gravações, do
Rádio e posteriormente da TV, houve a multiplicação de ritmos e de intérpretes.
A Igreja então, tornou-se o berço de grandes astros da música americana. Muitos
tinha carreiras paralelas (secular e gospel) e outros optavam por uma das
linhas. Tornaram-se sucessos reconhecidos, a partir de 1940: Mahalia Jackson, Bessie Smith, Aretha
Franklin, Sam Cooke.
5 –
Avivamento Entre os Hippies
O início do século 20 é marcado por duas
Guerras Mundiais e vários outros conflitos, onde jovens são obrigados a ir
lutar e morrer por seus países. A segunda metade do século, parece manter o
mesmo quadro, quando os EUA envolvem-se na Guerra da Coreia e depois do Vietnã,
a partir dos anos 60.
Jovens começam a se levantar, principalmente
nos EUA e Europa, protestando contra as Guerras e pregando a não violência,
através da “Paz e amor”. Foi o chamado “Movimento
Hippie”. Para alcançar estas qualidades, revoltavam-se contra muitos dos
valores usados até aquele momento, como a religião, os estilos musicais
tradicionais, contra o capitalismo que visava o lucro e o acúmulo de bens, etc.
E para fugir das dificuldades momentâneas, pregavam a liberação sexual e a
utilização das drogas. O grito dos jovens dessa época foi: “Drogas, Sexo e
Rock’n Roll”.
Em pouco tempo, alguns deles viram que “a
vida continuava vazia”, mesmo com as drogas, com o sexo livre e o Rock. Deus
foi levantando pastores e outros cristãos, que passaram a se aproximar desses
hippies ao invés de criticá-los. Ao serem evangelizados demonstravam-se
interessados, abertos à discussão e quando chegavam à conversão, logo
tornavam-se “missionários” saindo a levar outros hippies a Cristo.
Resultado: houve um “Avivamento entre os
Hippies”, chamado de “O Movimento de Jesus”, no início dos anos 70 nos EUA. Foi
chamado pelos jornais e revistas da época (“Life”, “Newsweek” e “Look”), de “A
revolução de Jesus, onde milhares de hippies convertidos eram batizados.
Os reflexos da conversão destes hippies,
começou a acontecer nas igrejas americanas. Algumas denominações históricas,
tornaram-se um pouco menos formais nos cultos. Surgiram novas igrejas e
denominações com cultos mais descontraídos, bem ao gosto dos hippies
convertidos, mas com grandes desejos de alcançar o mundo para Cristo. A musica
usada nos cultos passou a ser composta com base nos estilos mais cantados por
eles. Tinham um estilo jovem, popular, com letras claras e objetivas ao relatar
a necessidade de conversão a Jesus.
Vários grupos americanos do “Movimento de
Jesus” vieram ao Brasil para evangelizar nas ruas, praças e praias. Usavam a
informalidade e a facilidade de adaptação própria dos “hippies” para falar de
Cristo. No meio da rua, valia tudo: teatro, solos, conjuntos musicais, conversa
pessoal, etc. É claro que isso nos lembra o que o apóstolo Paulo disse: “Fiz-me tudo para com todos, com o fim de,
por todos os modos, salvar alguns” (I Co 9.19-23). Muitas das conversões
daquela época foram assimiladas pelas Igrejas em todo o país. A música jovem,
no Brasil dos anos 70 e 80, também foi influenciada pelas músicas trazidas por
eles.
6 – A
Música Gospel no Brasil
Sandro Baggio, em seu livro “Revolução na
Música Gospel” (Ed. Exodus, p. 69), diz: “Apesar
de não ser um resultado direto do “Movimento de Jesus”, os primeiros acordes
contemporâneos (no estilo jovem) a serem ouvidos no Brasil transportando uma
mensagem do Evangelho, surgiram naquela época. Desde a década de 1970 grupos
musicais cristãos estão desafiando as regras do tradicionalismo rígido e
trazendo estilos e melodias contemporâneas para dentro das igrejas brasileiras.
Isso tudo muito antes do termo Gospel
ter se adotado pelos evangélicos deste país.”
“Na
verdade, esse termo Gospel, pelo
qual tem sido denominada a Música Cristã Contemporânea (MCC), brasileira, faz
parte de uma estratégia de marketing elaborada no início dos anos 90. O fato de
que durante estes anos não havia no Brasil revistas especializadas em MCC,
torna as informações sobre os grupos e artistas brasileiros pouco documentadas
e raramente divulgadas. Isso contribui para que muitos dos que hoje estão na
onda do gospel, desconheçam totalmente alguns dos precursores dessa revolução
musical neste país”.
Veja alguns acontecimentos importantes (não
há espaço para detalhar mais) na “Música
Jovem Cristã” daquela época:
·
A música jovem,
ensinada nos Acampamentos de Juventude (a partir de 1950): através de
ministérios internacionais, voltados para este público, como Mocidade para Cristo, Palavra da Vida e
outros nacionais como Jovens da Verdade,
Jovens em Cristo.
·
Grupos de
evangelização em ruas e Igrejas (a partir dos anos 60): usando estratégias
ousadas e inovadoras, como música jovem, teatro, pintura de quadros, bonecos,
etc.: Jovens da Verdade, Jovens em
Cristo, Vencedores por Cristo.
·
Gravação de músicas
jovens (a partir dos anos 70): as igrejas tinham grande resistência às
músicas jovens, até que elas foram popularizadas em gravações. Quase não
existiam livrarias e pontos de vendas cristãos. A divulgação e a
comercialização eram feitas na visita dos grupos às igrejas. Mas como um “sopro
do Espírito”, elas se espalhavam rapidamente por todo o país. Um dos grandes
fenômenos em gravações foi Vencedores
por Cristo que lançou o 1º disco com composições e ritmos brasileiros, sob
o título “De Vento em Popa”, marco na história cristã de nosso país.
·
Peregrinações musicais
(a partir dos anos 70): os Grupos
muscais jovens que visavam evangelização desta faixa etária, saiam utilizando o
período de suas férias, para esse fim. Faziam contato com Igrejas de diversos
estados, que lhes davam uma base para os trabalhos e cuidavam dos novos
convertidos. Principais grupos: Vencedores
por Cristo, Elo, Logos, MIlad, Rebanhão, Mensagem, Semente, Expresso luz, Banda
Azul, Águas, Comunidade s-8, Cântaro, Etc.
A partir de 1990 houve uma preocupação maior
quanto a profissionalização dos grupos musicais e no envolvimento comercial
destes com grandes gravadoras. O resultado técnico foi positivo, embora muitos
pontos negativos devam ser fruto de avaliação permanente.
Houve uma tentativa de copiar os sucessos da “Indústria
Musical Americana” (de música Gospel ou não), que tornou-se uma potência,
vendendo milhões de cópias e fazendo das Igrejas “mercados consumidores de
material musical”. Enriqueceram a muitos músicos e produtores, o que tirou a “espontaneidade
e inocência”, que existiam no início da música Gospel.
CONCLUSÃO
Que impressionante perceber que o choro de
alguns irmãos, foi levado diante de Deus e transformado em um estilo de louvor
e uma linguagem de adoração. O Senhor os
encheu da sua Graça, mesmo em meio a tanto sofrimento! Foi isso o que
aconteceu com os negros americanos! Este mesmo Deus respondeu às inquietações
de alguns hippies, mostrando-lhes que a vida vazia que levavam poderia ser preenchida
totalmente com a pessoa de Jesus! Depois
disto, dá-lhes o sopro de um desejo missionário, que se espalha por todo o
mundo!.
Este é o nosso Deus! Que estas lembranças
possam alegrar o seu coração, enchendo-o do desejo de compartilhar a
experiência que você já tem com Cristo aos jovens da sua geração.
(LEOTO, Sérgio. MAGALI, Leoto. Revista Educação Cristã - Teen, Santa
Bárbaro D’Oeste, Z3 Editora, v. 5, 7ª
Ed. p. 45-48, Junho 2013.)