O Pr. Gilson Soares dos Santos é casado com a Missionária Selma Santos, tendo três filhos: Micaelle, Álef e Michelle. É servo do Senhor Jesus Cristo, chamado com santa vocação. Bacharel em Teologia pelo STEC (Seminário Teológico Evangélico Congregacional), Campina Grande/PB; Graduado em Filosofia pela UEPB (Universidade Estadual da Paraíba); Pós-Graduando em Teologia Bíblica pelo CPAJ/Mackenzie (Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper). Professor de Filosofia e Teologia Sistemática no STEC. Professor de Teologia Sistemática no STEMES, em Campina Grande - Paraíba. Pastor do Quadro de Ministros da Aliança das Igrejas Evangélicas Congregacionais do Brasil (AIECB). Pastoreou a Igreja Evangélica Congregacional de Cuité/PB, durante 15 anos (1993-2008). Atualmente é Pastor Titular da Igreja Evangélica Congregacional em Areia - Paraíba.

6 de setembro de 2013

Ética e Infinito, em Emmanuel Lévinas


ÉTICA E INFINITO, EM EMMANUEL LÉVINAS
 

Gilson Soares dos Santos e Ana Cláudia Gomes


A filosofia de Emmanuel Lévinas (1905-1995) tem como propósito o discurso sobre a responsabilidade para com o outro ser humano. Ele procura enfatizar a não-indiferença pelo rosto do outro. Sua ética é exposta, de forma clara, em totalidade e infinito e ética infinito, uma das suas principais obras de filosofia, como “a ética da responsabilidade para com os outros”. Sua filosofia traz uma resposta para a crise de ética de sua época. Para ele, o começo da filosofia é a responsabilidade com o outro. O infinito é o outro. O termo “metafísica” encontra em Lévinas significado próprio. A metafísica de Lévinas é a ética. É nosso propósito, neste trabalho, fazermos uma leitura interpretativa da ética levinasiana, buscando entender, acima de tudo, a definição que o filósofo faz sobre o rosto do outro e da nossa responsabilidade para com o outro, que não é apenas exterioridade do rosto, mas o humano que nos torna humano.


Lévinas inicia tratando da natureza histórica da filosofia, que buscou sintetizar universalmente tudo aquilo que é significativo, reduzindo as coisas ao conceito de totalidade. Uma filosofia que exalta o sujeito, colocando-o num pedestal, e, portanto, traindo a ideia de sujeito como estar sujeito a algo ou alguém. Para ele, na história da filosofia foi difícil encontrar uma ruptura entre totalidade e infinito, e foi somente em Franz Rozensweig que Lévinas encontrou, pela primeira vez, uma crítica radical contra a totalidade. Em oposição à totalidade, que foi uma tendência do pensamento filosófico ocidental, a filosofia levinasiana construiu a ideia de infinito. E, embora a idéia de infinito em Lévinas seja construída a partir de Descartes, sua filosofia estabelece diferença da filosofia cartesiana porque para Descartes o infinito é Deus, para Lévinas o infinito é o outro. A possibilidade do Outro, da responsabilidade com o outro. E isso não se trata de pensar conjuntamente o eu e o outro, mas, conforme o filósofo, de estar diante, no "frente a frente" dos humanos.

1 O ROSTO

A partir do rosto do outro, de um olhar para o rosto do outro, Emmanuel Lévinas busca construir uma nova visão de humano. Porém a exterioridade do rosto não permite que se tenha um conhecimento do outro. Não nos limitamos a ver o rosto do outro como nariz, olhos, testa, queixo, etc., Se assim o fizermos, então nos voltamos para o outro como objeto. É nesse ponto que Lévinas mostra que "o que é especificamente rosto é o que não se reduz a ele". Não importa o que possamos ver, há no rosto uma pobreza essencial, e não se pode ter um conhecimento seguro sobre o outro apenas contemplando a exterioridade do rosto, pois simplesmente o rosto pode disfarçar. Porém é o rosto que nos impede de matar. Isso faz sentido se conseguirmos ver o humano no rosto do outro. A primeira relação que temos com o rosto é uma relação de ética. A primeira palavra do rosto é "tu não matarás". De certa forma, quando nos encontramos com o outro podemos todas as coisas, inclusive matar o outro, mas não o fazemos porque o rosto do outro diz "Podes matar", mas o mesmo rosto diz "Não matarás". O rosto me leva à responsabilidade. Porque o rosto do humano corresponde ao humano. Talvez seja possível tirar a vida de um homem, porém seu rosto continuará lá.

Lévinas confirma a indagação de Philippe Nemo admitindo que o discurso humano também é uma maneira de se romper com a totalidade, porém, deixa bem claro que esse discurso começa no rosto do humano. Para Lévinas, o rosto fala. A capacidade de compreender isso é que leva ao discurso. Porque é o rosto que torna possível e começa todo o discurso.

O rosto do outro me dá uma ordem para não matá-lo, diz a ética levinasiana, e essa ordem obedeço porque vejo no rosto do outro "o pobre por quem tudo posso e a quem tudo devo." Embora Lévinas admita que existe o ódio e a violência contra o próximo, defende que isso acontece num segundo momento, por causa da presença do terceiro elemento, isto é, se estou diante do outro devo-lhe tudo, mas há o terceiro, o qual não sei estará de acordo com o outro. Para que as guerras, o ódio, a inveja, as atitudes desumanas não existam, é preciso estabelecer a relação interpessoal com o outro, mas também com todos os homens.

Lévinas sustenta que está construindo a ética do "rosto" que rompe com as filosofias da totalidade. Ele parte da idéia cartesiana do infinito: eu não posso, como ser finito, ter em mim a ideia de um Deus infinito, exceto se esse Deus, que é infinito, inserir tal ideia em mim. Para ele, no acesso ao rosto há, certamente, também a idéia de Deus. O infinito começa a partir do rosto do outro, da responsabilidade com o outro.

 3 A RESPONSABILIDADE POR OUTREM

Lévinas mostra, em sua filosofia, que a responsabilidade deve estar direcionada a outrem. Para ele, essa é a estrutura essencial, estrutura primeira. Essa responsabilidade é considerada na ética como o próprio nó do subjetivo. É romper com o pensamento filosófico egoísta. Somente assim, assumimos responsabilidades com o outro. Segundo o filósofo, "o laço com o outro só se aperta com responsabilidade". Essa responsabilidade nos faz mais humanos, mais servos, mais "livres para servir". É uma diaconia que envolve responsabilidade com o outro sem esperar nada em troca, sem buscar recompensas, sem desejo de reciprocidade. “É uma responsabilidade que vai além do que eu faço”, defende.

Lévinas nos leva à compreensão de que, se olharmos o rosto do outro positivamente, certamente teremos abraçado a ideia da necessidade de uma doação em prol do outro, por quem me torno inteiramente responsável, mesmo sem assumir responsabilidades para com ele.

Na filosofia levinasiana, a responsabilidade com o outro vai a tal ponto que nos tornamos responsáveis quando os outros não fazem o que têm que fazer. Lévinas afirma "eu próprio sou responsável pela responsabilidade de outrem". Jamais alguém deve pensar que "o outro não é nada, ele nada tem a ver comigo". Esse tipo de pensamento é o que gera a guerra, que coloca todos os indivíduos dentro da totalidade, fazendo deles parte de um todo. Ser humano, para a ética levinasiana, "é viver como se não fosse um ser entre os seres".

Diante de nossas reflexões sobre a filosofia de Lévinas, compreendemos que sua ética é contextual, aplica-se perfeitamente à realidade do mundo contemporâneo, que necessita de homens e mulheres que vivam ética e amorosamente esta vida. Se conseguirmos enxergar o humano no rosto do outro, assumiremos responsabilidades para com outrem, e certamente viveremos a ética de Emmanuel Lévinas, que é a ética de todos os humanos.

BIBLIOGRAFIA

LÉVINAS, Emmanuel. Ética e infinito – diálogos com Philippe Nemo. Lisboa: Edições 70, 1982. P.67-93.