UMA PEQUENA AULA SOBRE A RAZÃO
Gilson
Soares dos Santos
Prá começo de conversa, considere as seguintes frases:
“Eu estou com a razão”;
“Vamos dar razão a quem tem razão”;
“Fulano perdeu a razão”;
“Eles se divorciaram e com razão”
“Me dê uma razão para lhe deixar”
“Qual a razão disso?”
A palavra “razão”, do latim “ratio”, é um
termo muito usado, porém pouco entendido. Pode
ser definida como a capacidade que a mente humana tem de chegar a conclusões a
partir de suposições ou premissas. Veremos um pouco sobre o que é razão.
1_ Definição do termo e conceituação
“A
palavra razão origina-se de duas
fontes: a palavra latina ratio e a
palavra grega logos. Essas duas
palavras são substantivos derivados de dois verbos que tem um sentido muito
parecido em latim e em grego”.
(Grifo nosso)
De maneira mais específica, vejamos o
significado do termo razão como ratio
e logos:
Por isso, logos,
ratio, razão significam pensar e falar ordenadamente, com medida e
proporção, com clareza e de modo compreensível para outros. Assim, na origem, razão é a capacidade intelectual para
pensar e exprimir-se correta e claramente, para pensar e dizer as coisas tais
como são. A razão é uma maneira de
organizar a realidade pela qual esta se torna compreensível..
(grifo nosso)
Nicola Abbagnano traz vários significados
fundamentais para razão, dentre eles os seguintes:
Referencial de
orientação do homem em todos os campos em que seja possível a indagação ou a
investigação. Nesse sentido, dizemos que a Razão é uma "faculdade"
própria do homem, que o distingue dos animais.
A Razão é a força que
liberta dos preconceitos, do mito, das opiniões enraizadas, mas falsas e das
aparências, permitindo estabelecer um critério universal ou comum para a conduta
do homem em todos os campos..
2_ O
que não é razão
Marilena
Chauí apresenta quatro tipos de atitudes mentais que não podem ser consideradas
razão:
a)_ O
conhecimento ilusório
O conhecimento
ilusório, isto é, o conhecimento da mera aparência das coisas que não alcança a
realidade ou a verdade delas; para a razão, a ilusão provem de nossos costumes,
de nossos preconceitos, da aceitação imediata das coisas tais como aparecem e
tais como parecem ser. As ilusões criam as opiniões que variam de pessoa para
pessoa e de sociedade para sociedade..
b)_ A
passividade emocional
As emoções,
sentimentos e paixões, que são cegas, caóticas, desordenadas, contrárias umas
às outras, ora dizendo “sim” a alguma coisa, ora dizendo “não” a esta mesma
coisa. [...] A razão é vista como atividade ou ação (intelectual e da vontade)
oposta à paixão ou à passividade emocional..
c)_ A
crença religiosa
Nesta, a verdade nos
é dada pela fé numa revelação divina, não dependendo do trabalho de
conhecimento realizado pela nossa inteligência ou pelo nosso intelecto. [...]
Os filósofos cristãos distinguem a luz natural – a razão – da luz sobrenatural
– a revelação..
d)_ O
êxtase místico
No qual o espírito
mergulha na profundeza do divino e participa dele, sem qualquer intervenção do
intelecto ou da inteligência, nem da vontade. Pelo contrário, o êxtase místico
exige um estado de abandono, de rompimento com a atividade intelectual e com a
vontade, um rompimento com o estado consciente, para entregar-se à fruição do
abismo infinito. A razão ou consciência se opõe à inconsciência do êxtase..
3_ Os
princípios racionais
A filosofia nos ensina que a razão opera
seguindo certos princípios que ela própria estabelece, estando os mesmos de
conformidade com a realidade. Vejamos estes princípios:
a)_ O
princípio da identidade
Foi
formulado por Parmênides. Seu enunciado é:
“A é A”; “B = B”. Também pode
ser enunciado da seguinte maneira: “O
que é, é”.
Uma coisa, seja ela
qual for (um ser da Natureza, uma figura geométrica, um ser humano, uma obra de
arte, uma ação), só pode ser conhecida e pensada se for percebida e conservada
com sua identidade..
Por
exemplo, um triângulo é igual a ele mesmo. Nenhuma outra figura, com outro
número de lados, pode ser chamada de triângulo. Então, é o princípio da
identidade que diferencia pessoas, animais, plantas e outros objetos uns dos
outros.
b)_ O
princípio da não-contradição
É
atribuído a Aristóteles. O enunciado deste princípio é o seguinte: “A é A. É impossível que A seja ‘A e Não A’
ao mesmo tempo”. Explicando melhor: duas afirmações contraditórias não
podem ser verdadeiras ao mesmo tempo, porque são mutuamente exclusivas.
Assim, é impossível
que a árvore que está diante de mim seja e não seja uma mangueira; que o
cachorrinho de dona Filomena seja e não seja branco; que o triângulo tenha e
não tenha três lados e três ângulos..
c)_ O
princípio do terceiro excluído
Esse
princípio pode ser enunciado da seguinte maneira: “Ou A é X ou é Y e não há terceira possibilidade”. Em outras
palavras, “ou isto ou aquilo”. Este princípio exclui uma terceira
possibilidade. “Ou uma coisa está certa ou está errada”. “ou uma coisa é
verdadeira ou é falsa”. Não existe um terceiro elemento.
d)_ O
princípio da razão suficiente
Este
princípio pode ser enunciado da seguinte maneira: “Dado A, necessariamente se dará B”; “Dado B, necessariamente houve A”.
Este princípio nos diz que “tudo o que existe e tudo o que acontece tem uma
razão (causa ou motivo) para existir ou para acontecer que pode ser reconhecida
pela nossa razão.” Esse princípio é conhecido também como princípio da causalidade. Então, podemos dizer que o princípio da
causalidade nos diz que “para cada efeito existe uma causa”.
Terminamos esta aula lembrando que tudo o que apresentamos aqui, no propósito
de definir (conceituar) razão, é apenas um fragmento diante da complexidade do
tema. Mas já pode ser considerado um bom começo. A partir do que aqui foi
exposto, qualquer estudante que se interesse pelo assunto tem um ponto de
partida confiável.