O Pr. Gilson Soares dos Santos é casado com a Missionária Selma Santos, tendo três filhos: Micaelle, Álef e Michelle. É servo do Senhor Jesus Cristo, chamado com santa vocação. Bacharel em Teologia pelo STEC (Seminário Teológico Evangélico Congregacional), Campina Grande/PB; Graduado em Filosofia pela UEPB (Universidade Estadual da Paraíba); Pós-Graduando em Teologia Bíblica pelo CPAJ/Mackenzie (Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper). Professor de Filosofia e Teologia Sistemática no STEC. Professor de Teologia Sistemática no STEMES, em Campina Grande - Paraíba. Pastor do Quadro de Ministros da Aliança das Igrejas Evangélicas Congregacionais do Brasil (AIECB). Pastoreou a Igreja Evangélica Congregacional de Cuité/PB, durante 15 anos (1993-2008). Atualmente é Pastor Titular da Igreja Evangélica Congregacional em Areia - Paraíba.

10 de julho de 2016

Visão Geral das Abordagens Éticas

III – VISÃO GERAL DAS ABORDAGENS ÉTICAS

Pr. Gilson Soares dos Santos

3 – Visão geral das abordagens éticas

            O que a Ética tenta responder? As diversas abordagens éticas tentam responder questões pertinentes ao que é certo ou errado. Se destrinçarmos de maneira meticulosa as abordagens éticas, certamente encontraremos muitas variantes, entretanto, queremos apresentar apenas algumas das principais abordagens éticas. Vejamos:

3.1 – O Antinomismo

            Vejamos o que defende essa abordagem ética:

“É uma abordagem ética, segundo a qual, não existem normas objetivas a serem obedecidas. É a ausência de normas. [...] Esse tipo de visão encontra abrigo na mente de muita gente, principalmente entre os mais jovens, que anseiam por liberdade, sem refletir muito bem sobre as responsabilidades que nossas ações incorrem. [...] Na rebelião da juventude, na década de 1960, os jovens, na França, bradaram: “É proibido proibir”. Na onda do movimento hippie, muitos naufragaram, consumindo e consumidos pelas drogas, adotando um estilo de vida paradoxal, que visava, no entender de seus amantes, ir de encontro à sociedade organizada, passando por cima de suas normas e valores.”[1].

            Norman Geisler nos fala do antinomismo nos seguintes termos:

“A primeira alternativa no que diz respeito às normas éticas é que não existe norma alguma, ou pelo menos nenhuma norma objetiva. Ou seja: estamos literalmente sem lei (anti-nomos) para guiar ações éticas relevantes. As alegadas normas éticas que os homens usam, ou são destituídas de valor objetivo ou destituídas de relevância empírica. São, ou puramente subjetivas, ou completamente emotivas. Duas posições que têm pontos de vista, antinomistas são o existencialismo e o emotivismo ”.[2].

“[...] Não há nenhum princípio moral (tal como “não se deve mentir”). [...] Se não houver padrões morais, não pode haver julgamentos morais. [...] Segundo o ponto de vista antinomista não existe nenhuma norma objetiva mediante a qual o julgamento possa ser feito.”[3]

            O antinomismo, dentro da Ética Cristã, está ligado à posição daqueles que abraçam uma aversão à Lei Moral e uma perspectiva teológica que coloca a lei e o evangelho como opositores, chegando a afirmar que o cristão, que é justificado mediante a fé, não precisa cumprir a lei moral.
            Na obra “A Glória da Graça de Deus”, editada por Franklin Ferreira, há um capítulo, da autoria de Jorge Max da Silva, onde ele mostra a posição antinomista, adotada por alguns evangélicos, como extremamente perigosa. Vejamos como ele no-la apresenta:

“Em síntese, ela denota uma perspectiva teológica que “opõe à lei e ao evangelho a ponto de afirmar que o cristão, justificado mediante a fé, não tem obrigação alguma para com a lei moral”. A tese central defendida pelos antinomistas é que a lei moral foi abolida por Cristo e revogada pelo evangelho, pois quem está debaixo da graça não está mais debaixo da lei, logo, da obrigação de guardá-la.”[4].

3.2 – O Generalismo
           
            Agora, vejamos o que prega o generalismo:

“Essa doutrina prega que deve haver normas gerais, mas não universais. E o que deve ser levado em conta são os resultados absolutos. Nenhum ato ou conduta podem ser considerados certo ou errado, a não ser em função de seus resultados para o indivíduo, ou para a sociedade. As regras existem, mas podem ser quebradas, dependendo dos fins. Tal afirmação corresponde ao que pregava o filósofo Maquiavel: “Os fins justificam os meios”. Os generalistas são utilitaristas. Só é certo o que produz melhor resultado (mais felicidade ou prazer do que dor). Uma norma pode ser boa hoje, e não servir amanhã. Depende da sociedade. Se, por exemplo, o adultério é errado em certo período, em outro, poderá ser aceito. Dessa forma, pode-se resumir essa abordagem, dizendo que “há um só fim absoluto (o máximo bem) e todos os meios (regras, normas, etc.) são relativos àquele fim... Se, nesta situação, mentir seria mais útil ou vantajoso para a maioria dos homens, então se deve mentir”.[5].

            Nas palavras de Norman Geisler, em sua obra “Ética Cristã: Alternativas e Questões Contemporâneas”, o Generalismo prega, por exemplo, que “Mentir é, geralmente, mas nem sempre errado. [... Mentir é errado como regra geral, mas há ocasiões em que a regra deve ser quebrada. [...] É correto mentir quando o mentir realizará um bem maior do que não mentir”.[6]

            Geisler continua falando do generalismo da seguinte maneira:

“Para alguns generalistas, pois, não há regras universais que realmente não tenham exceção. Na melhor das hipóteses são apenas normas que podem ser quebradas se a ocasião assim o exigir. Desta maneira, mentir para salvar uma vida pode ser certo, embora a mentira seja geralmente errada.”[7].

3.3 – O Situacionismo

            O situacionismo é outra das abordagens éticas. É também chamado de Ética Situacional. Foi ensinado por Hoseph Fletcher e sua premissa é “Fazer aquilo que é mais cheio de amor”. Vejamos como é apresentado por Elinaldo Renovato de Lima em sua obra sobre Ética Cristã:

“É um meio-termo entre o Antinomismo e o Generalismo. O primeiro não tem regra nenhuma; o segundo admite regras gerais, mas não universais. Joseph Fletcher foi seu principal teórico. Para ele, só há uma lei para tudo: a lei do amor. “Somente o mandamento do amor é categoricamente bom”. Geisler cita um exemplo: “Estamos obrigados a contar a verdade, por exemplo, somente se a situação assim exige; se alguém quer ser assassino, pergunta onde está sua vítima; nosso dever pode ser mentir” (ibidem, p. 53); “se uma mentira for contada em amor, é boa e certa” (Ibidem, p. 55)- Em resumo, nessa visão, o certo e o errado dependem da situação, em função do amor às pessoas. Baseiam-se inclusive na Bíblia, que resume toda a lei no amor (Mt 22.34-40). “O amor não faz mal ao próximo; de sorte que o cumprimento da lei é o amor” (Rm 13.10).”[8].

            Nesse contexto, para o situacionismo, roubar para salvar uma pessoa que está morrendo de fome ou mentir para salvar uma pessoa inocente de um assassino não seria errado. O situacionismo abre demais as portas para padrões individualistas. Para os que adotam esta abordagem ética o ato é coberto pelo bem maior.
            Na Ética Situacional (o situacionismo), até mesmo os princípios mais reverenciados devem ser deixados de lado se estiverem em conflito com o amor. O amor deve ser colocado acima do sistema, dos mandamentos e das regras. Em qualquer situação, o amor diz como devemos agir. Em síntese, segundo o situacionismo, a norma reguladora da ética cristã é o amor.

3.4 – O Absolutismo

            Essa abordagem ética consiste no seguinte:

“Essa doutrina sustenta que “há muitas normas absolutas que nunca entram realmente em conflito”. Platão ensinava que existem normas ou virtudes universais que nunca precisam variar. Dentre essas virtudes estariam a coragem, a temperança, a sabedoria e a justiça. Emanuel Kant defendia a ideia de um “Imperativo Categórico”, que seria a norma para a vida por excelência. Para entender essas ideias, alguns exemplos são úteis. Kant dizia que “nunca se deve tirar a vida inocente, e nunca se deve contar uma mentira”. Para ele, não justifica mentir, mesmo para salvar uma vida. Ele afirma que, mesmo havendo desvantagem em falar a verdade, isso deve ser feito, pois, ao mentir, estaremos agindo contra todos os homens. Quanto à verdade, ele afirma: Porque “ser veraz (honesto) em todas as declarações é, portanto, um mandamento incondicional sagrado da razão, e não deve ser limitado de qualquer maneira pela conveniência””[9]

            Concluindo essa parte sobre abordagens éticas contemporâneas, recorremos ao texto de Elinaldo Renovato de Lima:

As abordagens éticas contemporâneas podem ser estudadas pelos cristãos, como forma de se avaliar a conduta a ser seguida, na visão dos homens, mas é na Bíblia Sagrada que se encontram os referenciais éticos indispensáveis para um viver santo e digno, em meio a uma sociedade que é vista por Deus como reprovável e corrompida. Diz S. Paulo: “Para que sejais irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis no meio duma geração corrompida e perversa, entre a qual resplandeceis como astros no mundo” (Fp 2.15).[10]

            Sabemos que os padrões de ética humana são diferentes de um país para outro, de uma geração para outra. Porém, os padrões da Ética Cristã, sendo norteados pela Revelação de Deus, as Escrituras Sagradas, não podem mudar. Embora muitos queiram adequar o ensino das Escrituras ao pensamento da pós-modernidade, é preciso saber que a Palavra de Deus esta acima de todas as coisas e todas as decisões sobre o certo e o errado devem ser pautadas pela Revelação Soberana de Deus, a Bíblia Sagrada.




[1] LIMA, Elinaldo Renovato de. Ética Cristã: Confrontando as Questões Morais do Nosso Tempo. Rio de Janeiro: CPAD. 2006. p.10.
[2] GEISLER, Norman L. Ética Cristã: Alternativas e Questões Contemporâneas. São Paulo: Vida Nova. 2001. p.24.
[3] idem p.11.
[4] FERREIRA, Franklin. (editor) A Glória da Graça de Deus. São José dos Campos: Fiel. 2012. p.587.
[5]  LIMA, Elinaldo Renovato de. Ética Cristã: Confrontando as Questões Morais do Nosso Tempo. Rio de Janeiro: CPAD. 2006. p.11.
[6] GEISLER, Norman L. Ética Cristã: Alternativas e Questões Contemporâneas. São Paulo: Vida Nova. 2001. p.12.
[7] Idem p.47.
[8]  LIMA, Elinaldo Renovato de. Ética Cristã: Confrontando as Questões Morais do Nosso Tempo. Rio de Janeiro: CPAD. 2006. p.11.
[9]  Idem p.12.
[10] Idem.