O Pr. Gilson Soares dos Santos é casado com a Missionária Selma Santos, tendo três filhos: Micaelle, Álef e Michelle. É servo do Senhor Jesus Cristo, chamado com santa vocação. Bacharel em Teologia pelo STEC (Seminário Teológico Evangélico Congregacional), Campina Grande/PB; Graduado em Filosofia pela UEPB (Universidade Estadual da Paraíba); Pós-Graduando em Teologia Bíblica pelo CPAJ/Mackenzie (Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper). Professor de Filosofia e Teologia Sistemática no STEC. Professor de Teologia Sistemática no STEMES, em Campina Grande - Paraíba. Pastor do Quadro de Ministros da Aliança das Igrejas Evangélicas Congregacionais do Brasil (AIECB). Pastoreou a Igreja Evangélica Congregacional de Cuité/PB, durante 15 anos (1993-2008). Atualmente é Pastor Titular da Igreja Evangélica Congregacional em Areia - Paraíba.

28 de março de 2017

Teologia da Glória e Teologia da Cruz

TEOLOGIA DA GLÓRIA E TEOLOGIA DA CRUZ

Pr. Gilson Soares dos Santos

     É de suma importância que estudemos este tema, Teologia da Glória e Teologia da Cruz, a fim de termos uma compreensão sobre algumas “teologias”. A seguir fiz uma compilação de textos que tratam da Teologia da Glória e da Teologia da Cruz.

     “No começo de 1518, na obra Controversia de Heidelberg, Lutero apresentou o que se tornou um programa inteiro para uma abordagem da teologia. Ele propôs esse programa colocando em oposição dois tipos de teologia: uma “teologia da glória” e uma “teologia da cruz”. Esses dois diferem em seu tema, pois um está preocupado primariamente com Deus em gloria, enquanto que o outro vê Deus como oculto em sofrimento.”[1]
     “Em abril de 1518, Martinho Lutero (1483-1546), em Heidelberg, contrapôs seus “Paradoxos” teológicos como “teologia da cruz” (theologia crucis) à “teologia da glória” (theologia gloriae), isto é, à teologia eclesial dominante. [...] No “Debate de Heidelberg”, travou-se a discussão da indulgência. Lutero contrastou a teologia da cruz com a teologia oficial, diante de uma igreja que se tornara segura e saciada. Como exemplo dessa realidade, para financiar o seu projeto mais extravagante, a basílica de São Pedro em Roma (incluindo a Capela Sistina), Leão X (1475-1521), eleito papa em 1513, resgatou a prática de cobrar indulgências, o que, de alguma maneira, precipitou a Reforma Protestante. Em Heidelberg, distinguindo entre o cristianismo evangélico bíblico e as corrupções medievais, Lutero entendeu que a igreja medieval seguia o caminho da glória ao invés do caminho da cruz. Para Lutero a cruz é a marca de toda a teologia. “No Cristo crucificado é que estão a verdadeira teologia e o verdadeiro conhecimento de Deus.” Conhecer a Deus pela cruz é conhecer o nosso pecado e o amor redentor de Deus. Deus, na cruz, destrói todas as nossas idéias preconcebidas da glória divina. O perigo em potencial que a teologia da cruz vê na sua antítese é que a teologia da glória levará o homem a alguma forma de justiça pelas obras, à tendência de se fazer uma barganha com Deus com base em realizações pessoais. Por outro lado, a teologia da cruz repudia firmemente as realizações do próprio homem e deixa Deus fazer tudo para efetivar e preservar a sua salvação..”[2]

3.1_ A Teologia da Glória

     “Uma das muitas percepções teológicas de Martinho Lutero, a teologia da glória é a antítese da teologia da cruz. Lutero sentia tão forte convicção a respeito da distinção entre essas teologias que declarou de modo inequívoco que somente aqueles que sustentam e ensinam a teologia da cruz merecem ser chamados teólogos.”[3]
     “A teologia da glória chega ao conhecimento de Deus através das Suas obras. A teologia natural e a metafísica especulativa encaixam-se nessa categoria, bem como o conceito triunfalista expressado por alguns carismáticos dos nossos dias que entendem que Deus Se revela em intervenções dramáticas (visões, milagres, curas, etc.), e que a vida cristã é vivida numa constante “alta” espiritual. Os proponentes da teologia da cruz discordam ruidosamente desse ponto de vista. Deus quer ser conhecido e reverenciado com base em outro princípio. A teologia da glória entende que se conhece a Deus imediatamente por Suas expressões de poder, sabedoria e glória divinos; ao passo que a teologia da cruz O reconhece no próprio lugar onde Ele Se ocultou — na cruz, com os seus sofrimentos, todos eles considerados fraqueza e estultícia pela teologia da glória.”[4]
     “O perigo em potencial que a teologia da cruz vê na sua antítese é que a teologia da glória levará a alguma forma de justiça pelas obras moralistas, à propensão de se fazer uma barganha com Deus com base em realizações pessoais. A teologia da cruz repudia as realizações do próprio homem e deixa Deus fazer tudo para efetivar e preservar a Sua salvação. Essa teologia redirige a atenção do ativismo moralista para a receptividade genuína.”[5].

3.2_ Teologia da Cruz

     “A contribuição mais profunda de Martinho Lutero ao pensamento teológico. Cinco meses depois de ter pregado as noventa e cinco teses na porta da Igreja do Castelo de Wittemberg, Lutero formulou a theologia crucis. Essa teologia da cruz contrasta com a teologia da glória e é mais bem entendida em harmonia com o Deus Absconditus (“o Deus oculto") e o Deus Revelatus (“o Deus revelado”).[6]
     “Antes da queda (lapsus) o homem era capaz de conhecer a Deus de modo direto ou imediato. Era o Deus Revelatus que comungava com o homem no frescor do jardim do Éden. A consequência da queda do homem no pecado incluiu muito mais do que a morte pessoal e a deterioração moral; alterou, também, a capacidade de o homem conhecer o Criador e ter comunhão com Ele. O Deus revelado tornou-se o Deus oculto (Deus Absconditus). A única maneira pela qual a comunhão destruída podia ser restaurada era por meio da redenção. Em todo o período do AT, a despeito das intervenções milagrosas, das conquistas militares, dos templos magníficos e dos palácios primorosos, o único lugar onde Deus Se encontrava com o Seu povo era no propiciatório (“Ali virei a ti,” Ex 25.22), no lugar do sacrifício e da redenção. O lugar de encontro derradeiro de Deus foi desvendado na cruz de Cristo. Deus é conhecido e compreendido, não na força, mas na fraqueza, não numa demonstração impressionante de majestade e poder, mas na exibição de um amor que se dispõe a sofrer a fim de ganhar o homem de volta para si.”[7]
     “Infelizmente, o homem moderno resolveu conhecer Deus como o Revelado. O pagão vê o poder de Deus no cosmos criado, mas é levado de um grau de idolatria para outro. O fanático civilizado pensa que descobre Deus nas demonstrações de pompa e cerimônia e nas expressões de realização moral pessoal. Todos estão tragicamente enganados. Deus sempre é conhecido pelo homem através da cruz, e somente ali. Com profunda percepção, Lutero protestava: Solus praedica Sapientum crucis. “Prega esta única coisa, a sabedoria da cruz.”[8].

3.3_ Contrastando a Teologia da Glória e a Teologia da Cruz

     “A teologia da glória, portanto, é a teologia centralizada no homem e induz à superestimação do poder e capacidade naturais do homem. A teologia da cruz revela a verdadeira condição dos seres humanos, como pecadores desamparados, alienados de Deus, na mente e no coração, necessitando desesperadamente do plano de salvação criado por Deus: a cruz de Cristo. A teologia da glória sugere que os seres humanos podem se elevar a Deus por seus próprios esforços e conduz a projetos humanos de salvação própria e de especulação teológica. A teologia da cruz proclama que os seres humanos são totalmente dependentes e incapazes de descobrir qualquer coisa a respeito de Deus sem a ajuda da auto revelação do próprio Deus, e conduz ao discipulado marcado pelo sofrimento em nome de Deus e do próximo.”[9]
     “Quando Lutero olhava para a Igreja de Roma, via a manifestação concreta da teologia da glória. Queria rejeitar tudo isso sem destruir a cristandade. Podia aceitar o papa que liderasse a igreja com o servo sofredor, mas não o papa que era rico, poderoso e majestoso e reinava sobre todos.”[10].
     “Lutero também considerava exemplo da teologia da glória a crença no livre arbítrio humano no tocante à salvação. [...] Sua teologia da cruz também o levou à defesa fervorosa da doutrina da salvação — o monergismo da salvação. Embora Lutero tivesse muitos motivos para crer na predestinação, na verdade, sua crença nela se baseava na cruz e, só podia ser explicada por meio da cruz, e não pela argumentação teológica ou filosófica racional”.[11].
     “Em seu próprio tempo, Lutero via apenas duas opções para a teologia cristã: a versão da teologia da glória ou da teologia da cruz. Pelos seus cálculos, todos os seus oponentes — inclusive a Igreja de Roma e os humanistas, bem com o os “fanáticos” entre os protestantes — eram culpados de adotar a teologia da glória. Somente ele conseguia ver a centralidade da cruz e o paradoxo do poder e sofrimento de Deus no âmago do evangelho, conforme o entendia. Tudo na contribuição teológica de Lutero flui e reflui daí continuamente.”[12].
     “Uma teologia da glória denomina o mal, bem e o bem, mal. Uma teologia da cruz denomina a coisa como ela é efetivamente. Isso está claro: Aquele que não conhece a Cristo, não conhece o Deus oculto em sofrimento. Portanto, ele prefere obras ao invés de sofrimento, glória a cruz, força a fraqueza, sabedoria a tolice e, em geral, bem ao mal. Essas são as pessoas a quem o apóstolo chama de “inimigos da cruz de Cristo” (Fp 3.18), pois eles odeiam a cruz e o sofrimento, e amam as obras e a sua glória. Assim, eles chamam o bem da cruz, mal e o mal de uma ação, bem. Deus pode ser encontrado apenas no sofrimento e na cruz, como já foi dito. Portanto, os amigos da cruz dizem que a cruz é boa e as obras são más, pois por meio da cruz as obras são destronadas e o velho Adão, que é especialmente edificado por obras, é crucificado. É impossível para uma pessoa não se vangloriar por suas boas obras a não ser que ela seja primeiro esvaziada e destruída por sofrimento e mal, até ela saber que é sem valor e que suas obras não são suas, mas de Deus.”[13].


[1]  GONZALEZ, Justo L. Uma História do Pensamento Cristão. Da Reforma Protestante ao Século 20. Vol. 3. São Paulo: Cultura Cristã. 2004. P. 38.
[2]  SANTOS, Gilson. Matinho Lutero: A Teologia da Cruz em Contraste com a Teologia da Glória. In: http://www.ministeriofiel.com.br/artigos/detalhes/172/Martinho_Lutero_A_Teologia_da_Cruz_em_Contraste_com_a_Teologia_da_Gloria. Acesso em 27/03/2017.
[3]  ELWELL, Walter A. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã. Vida Nova: São Paulo. 2009. P.477
[4]  ELWELL, Walter A. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã. Vida Nova: São Paulo. 2009. P.477
[5]  Ibidem.
[6]  Ibidem.  P.471
[7]  Ibidem.
[8]  Ibidem.
[9]  OLSON, Roger. História da Teologia Cristã. São Paulo: Editora vida. 2001. P.392.
[10]  Ibidem.
[11]  Ibidem. P.393.
[12]  Ibidem.
[13]  GONZALEZ, Justo L. Uma História do Pensamento Cristão. Da Reforma Protestante ao Século 20. Vol. 3. São Paulo: Cultura Cristã. 2004. PP. 40-41.