TEOLOGIA DA GLÓRIA E
TEOLOGIA DA CRUZ
Pr. Gilson Soares dos Santos
É de suma importância que estudemos este
tema, Teologia da Glória e Teologia da Cruz, a fim de termos uma compreensão
sobre algumas “teologias”. A seguir fiz uma compilação de textos que tratam da
Teologia da Glória e da Teologia da Cruz.
“No começo de 1518, na obra Controversia de Heidelberg, Lutero
apresentou o que se tornou um programa inteiro para uma abordagem da teologia. Ele
propôs esse programa colocando em oposição dois tipos de teologia: uma
“teologia da glória” e uma “teologia da cruz”. Esses dois diferem em seu tema,
pois um está preocupado primariamente com Deus em gloria, enquanto que o outro
vê Deus como oculto em sofrimento.”
“Em abril de 1518, Martinho
Lutero (1483-1546), em Heidelberg, contrapôs seus “Paradoxos” teológicos como
“teologia da cruz” (theologia crucis) à “teologia da glória” (theologia
gloriae), isto é, à teologia eclesial dominante. [...] No “Debate de
Heidelberg”, travou-se a discussão da indulgência. Lutero contrastou a teologia
da cruz com a teologia oficial, diante de uma igreja que se tornara segura e
saciada. Como exemplo dessa realidade, para financiar o seu projeto mais
extravagante, a basílica de São Pedro em Roma (incluindo a Capela Sistina),
Leão X (1475-1521), eleito papa em 1513, resgatou a prática de cobrar
indulgências, o que, de alguma maneira, precipitou a Reforma Protestante. Em
Heidelberg, distinguindo entre o cristianismo evangélico bíblico e as
corrupções medievais, Lutero entendeu que a igreja medieval seguia o caminho da
glória ao invés do caminho da cruz. Para Lutero a cruz é a marca de toda a
teologia. “No Cristo crucificado é que estão a verdadeira teologia e o
verdadeiro conhecimento de Deus.” Conhecer a Deus pela cruz é conhecer o nosso
pecado e o amor redentor de Deus. Deus, na cruz, destrói todas as nossas idéias
preconcebidas da glória divina. O perigo em potencial que a teologia da cruz vê
na sua antítese é que a teologia da glória levará o homem a alguma forma de
justiça pelas obras, à tendência de se fazer uma barganha com Deus com base em
realizações pessoais. Por outro lado, a teologia da cruz repudia firmemente as
realizações do próprio homem e deixa Deus fazer tudo para efetivar e preservar
a sua salvação..”
3.1_ A Teologia da Glória
“Uma das muitas percepções
teológicas de Martinho Lutero, a teologia da glória é a antítese da teologia da
cruz. Lutero sentia tão forte convicção a respeito da distinção entre essas
teologias que declarou de modo inequívoco que somente aqueles que sustentam e
ensinam a teologia da cruz merecem ser chamados teólogos.”
“A teologia da glória chega ao
conhecimento de Deus através das Suas obras. A teologia natural e a metafísica
especulativa encaixam-se nessa categoria, bem como o conceito triunfalista
expressado por alguns carismáticos dos nossos dias que entendem que Deus Se
revela em intervenções dramáticas (visões, milagres, curas, etc.), e que a vida
cristã é vivida numa constante “alta” espiritual. Os proponentes da teologia da
cruz discordam ruidosamente desse ponto de vista. Deus quer ser conhecido e
reverenciado com base em outro princípio. A teologia da glória entende que se
conhece a Deus imediatamente por Suas expressões de poder, sabedoria e glória
divinos; ao passo que a teologia da cruz O reconhece no próprio lugar onde Ele
Se ocultou — na cruz, com os seus sofrimentos, todos eles considerados fraqueza
e estultícia pela teologia da glória.”
“O perigo em potencial que a teologia da
cruz vê na sua antítese é que a teologia da glória levará a alguma forma de
justiça pelas obras moralistas, à propensão de se fazer uma barganha com Deus
com base em realizações pessoais. A teologia da cruz repudia as realizações do
próprio homem e deixa Deus fazer tudo para efetivar e preservar a Sua salvação.
Essa teologia redirige a atenção do ativismo moralista para a receptividade
genuína.”.
3.2_ Teologia da Cruz
“A contribuição mais profunda de Martinho
Lutero ao pensamento teológico. Cinco meses depois de ter pregado as noventa e
cinco teses na porta da Igreja do Castelo de Wittemberg, Lutero formulou a theologia crucis. Essa teologia
da cruz contrasta com a teologia da glória e é mais bem entendida em harmonia
com o Deus Absconditus (“o
Deus oculto") e o Deus Revelatus
(“o Deus revelado”).
“Antes da queda (lapsus) o homem era capaz de conhecer a Deus de modo direto
ou imediato. Era o Deus Revelatus que
comungava com o homem no frescor do jardim do Éden. A consequência da queda do
homem no pecado incluiu muito mais do que a morte pessoal e a deterioração
moral; alterou, também, a capacidade de o homem conhecer o Criador e ter
comunhão com Ele. O Deus revelado tornou-se o Deus oculto (Deus Absconditus). A única maneira pela qual a comunhão
destruída podia ser restaurada era por meio da redenção. Em todo o período do
AT, a despeito das intervenções milagrosas, das conquistas militares, dos
templos magníficos e dos palácios primorosos, o único lugar onde Deus Se
encontrava com o Seu povo era no propiciatório (“Ali virei a ti,” Ex 25.22), no lugar do sacrifício e da
redenção. O lugar de encontro derradeiro de Deus foi desvendado na cruz de
Cristo. Deus é conhecido e compreendido, não na força, mas na fraqueza, não
numa demonstração impressionante de majestade e poder, mas na exibição de um
amor que se dispõe a sofrer a fim de ganhar o homem de volta para si.”
“Infelizmente, o homem moderno resolveu
conhecer Deus como o Revelado. O pagão vê o poder de Deus no cosmos criado, mas
é levado de um grau de idolatria para outro. O fanático civilizado pensa que
descobre Deus nas demonstrações de pompa e cerimônia e nas expressões de
realização moral pessoal. Todos estão tragicamente enganados. Deus sempre é
conhecido pelo homem através da cruz, e somente ali. Com profunda percepção,
Lutero protestava: Solus praedica
Sapientum crucis. “Prega esta única coisa, a sabedoria da cruz.”.
3.3_ Contrastando a Teologia da Glória e a Teologia da
Cruz
“A
teologia da glória, portanto, é a teologia centralizada no homem e induz à superestimação
do poder e capacidade naturais do homem. A teologia da cruz revela a verdadeira
condição dos seres humanos, como pecadores desamparados, alienados de Deus, na
mente e no coração, necessitando desesperadamente do plano de salvação criado
por Deus: a cruz de Cristo. A teologia da glória sugere que os seres humanos
podem se elevar a Deus por seus próprios esforços e conduz a projetos humanos
de salvação própria e de especulação teológica. A teologia da cruz proclama que
os seres humanos são totalmente dependentes e incapazes de descobrir qualquer
coisa a respeito de Deus sem a ajuda da auto revelação do próprio Deus, e
conduz ao discipulado marcado pelo sofrimento em nome de Deus e do próximo.”
“Quando
Lutero olhava para a Igreja de Roma, via a manifestação concreta da teologia da
glória. Queria rejeitar tudo isso sem destruir a cristandade. Podia aceitar o
papa que liderasse a igreja com o servo sofredor, mas não o papa que era rico,
poderoso e majestoso e reinava sobre todos.”.
“Lutero também considerava exemplo da teologia da glória a crença no
livre arbítrio humano no tocante à salvação. [...] Sua teologia da cruz também
o levou à defesa fervorosa da doutrina da salvação — o monergismo da salvação.
Embora Lutero tivesse muitos motivos para crer na predestinação, na verdade,
sua crença nela se baseava na cruz e, só podia ser explicada por meio da cruz,
e não pela argumentação teológica ou filosófica racional”..
“Em seu próprio tempo,
Lutero via apenas duas opções para a teologia cristã: a versão da teologia da
glória ou da teologia da cruz. Pelos seus cálculos, todos os seus oponentes —
inclusive a Igreja de Roma e os humanistas, bem com o os “fanáticos” entre os
protestantes — eram culpados de adotar a teologia da glória. Somente ele
conseguia ver a centralidade da cruz e o paradoxo do poder e sofrimento de Deus
no âmago do evangelho, conforme o entendia. Tudo na contribuição teológica de
Lutero flui e reflui daí continuamente.”.
“Uma teologia da glória denomina o mal, bem e
o bem, mal. Uma teologia da cruz denomina a coisa como ela é efetivamente. Isso
está claro: Aquele que não conhece a Cristo, não conhece o Deus oculto em
sofrimento. Portanto, ele prefere obras ao invés de sofrimento, glória a cruz,
força a fraqueza, sabedoria a tolice e, em geral, bem ao mal. Essas são as
pessoas a quem o apóstolo chama de “inimigos da cruz de Cristo” (Fp 3.18), pois
eles odeiam a cruz e o sofrimento, e amam as obras e a sua glória. Assim, eles
chamam o bem da cruz, mal e o mal de uma ação, bem. Deus pode ser encontrado
apenas no sofrimento e na cruz, como já foi dito. Portanto, os amigos da cruz
dizem que a cruz é boa e as obras são más, pois por meio da cruz as obras são
destronadas e o velho Adão, que é especialmente edificado por obras, é
crucificado. É impossível para uma pessoa não se vangloriar por suas boas obras
a não ser que ela seja primeiro esvaziada e destruída por sofrimento e mal, até
ela saber que é sem valor e que suas obras não são suas, mas de Deus.”.