O PROBLEMA DO MAL
Gilson
Soares dos Santos
Apesar de toda cosmovisão ter de lidar com o
problema do mal, o problema é mais relevante para o teísmo cristão. O problema
do mal é um desafio sério para o cristianismo.
Nessa postagem, estarei trazendo um resumo
sobre o problema do mal. É algo bem resumido, é claro, mas que trata um pouco
sobre a questão.
1 –
Quatro questões básicas para o problema do mal
Segundo Franklin Ferreira e Alan Myatt (2007, p. 342):
Historicamente, ha
quatro respostas básicas para o problema do mal:
A primeira é que Deus não existe e o mal não existe.
Quase nenhum pensador mantém esta posição hoje, mas ela foi afirmada por
Friedrich Nietzsche entre outros. O problema desta posição é que o ser humano
não pode escapar da realidade do mal.
A segunda é que Deus não existe, mas o mal existe.
Essa é a posição comum do ateísmo nas suas varias formas, como no humanismo, no
positivismo, no marxismo e no existencialismo. O problema é que, assim, todo o
mal é apenas uma percepção humana. No fim, o mal se torna algo totalmente
relativo. Por exemplo, a partir desta posição, o que era o mal para os
nazistas, não era o mal para os judeus e outras minorias que foram perseguidas
por eles.
A terceira resposta é que Deus existe, mas o mal não
existe. Esta é a resposta do panteísmo em suas diversas formas, como o
hinduísmo e o budismo. Em última instância, tudo é Deus. Então, o mal não
existe em sua essência. As coisas somente parecem, mas para o entendimento não-iluminado.
E, em quarto lugar, a última posição afirma
que Deus existe e o mal também existe. Esta resposta pode incorrer em
duas perspectivas deficientes. Uma delas seria o dualismo, que diz que há duas
forças iguais e opostas em fluxo contínuo no universo. A outra é o finitismo, que
nega um ou mais dos atributos de Deus, como por exemplo, sua onipotência,
onisciência, imutabilidade, bondade ou amor. Alguns dizem que Deus é bom, mas
não é onipotente, como no judaísmo contemporâneo, representado pelo Rabino
Kushner, na teologia do processo, no mormonismo e entre os que ensinam a
chamada teologia relacional. Para estes, Deus não controla o universo. Só que,
como vimos anteriormente, o problema é que esta representação de Deus é
inferior ao Deus revelado nas Escrituras. Outros têm dito que Deus é
onipotente, mas não é completamente bom, como insistem alguns dos deístas. Mas
isso significaria que Deus, como se revela nas Escrituras, se contradiz. Ele
deixaria de ser santíssimo.
“Embora a Bíblia não seja especifica sobre a
questão da origem do mal, parece que o mal entrou no universo através do
exercício da agência dos seres pessoais, como Satanás e Adão. A capacidade de
fazer escolhas que Deus criou era boa em si, refletindo sua própria imagem. “.
(Idem, p.342).
2 – O
Paradoxo de Epicuro
O Paradoxo de Epicuro é um dilema sobre o
problema do mal, atribuído ao filósofo grego Epicuro (341-271 a.C.), que
consiste no seguinte:
1 – Deus existe e quer acabar o mal, mas não
pode fazê-lo? Então não é onipotente.
2 – Deus existe e pode acabar o mal, mas não
quer fazê-lo? Então é malvado.
3 – Deus pode e quer acabar o mal, então por
que permite sua existência?
4 – Deus pode e não quer acabar o mal, então
por que chamá-lo Deus?
3 – Uma
primeira explicação para a presença do mal no mundo
Para muitos, a resposta que deve ser dada ao
Paradoxo de Epicuro está nas seguintes premissas:
1 – Deus criou toda substância.
2 – O mal não é uma substância (mas uma
privação numa substância).
3 – Logo, Deus não criou o mal.
Vejamos como Norman Geisler (2002, p.535)
expõe esse ponto de vista:
O mal não é uma
substância, mas a corrupção das substâncias boas que Deus fez. O mal é como a
ferrugem no carro ou a podridão na árvore. É a falta de coisas boas, mas não é algo por si só. O mal é como a
ferida no braço ou furos de traça na roupa. Só existe em outra coisa, não
sozinho.
Esse ponto de vista não nega a realidade do
mal, mas descrê que ele (o mal) exista por si mesmo. Para existir, o mal
depende de algo que foi criado.
4 – A
resposta do Teísmo Cristão ao problema do mal no mundo
Vejamos as seguintes premissas:
1. Deus existe
2. Deus é onipotente
3. Deus é onisciente
4. Deus é onibenevolente
5. Deus criou o mundo e
6. O mundo contém o mal.
Para Epicuro, e muitos dos seus seguidores
com o passar dos séculos, as premissas acima se contradizem.
Vejamos como Ferreira e Myatt (2007, p.344)
explicam estas premissas do teísmo cristão:
A pergunta é uma só:
“onde está a contradição aqui?” Como Ronald Nash disse, não há contradição
entre qualquer uma dessas premissas, a menos que alguém introduza princípios ou
definições dos termos empregados que não são necessários ao teísmo cristão. O
cético responde: “Ora, certamente um ser onibenevolente não criaria um mundo
onde o mal existe”. O cristão pode responder: “Mas quem foi que disse isso?”
Não há nada na teologia cristã que sustente tal ponto. A Bíblia, que é a fonte
da fé cristã, ensina exatamente o contrário. Assim, por que um cristão deveria
aceitar a noção de que suas crenças são contraditórias, quando para se chegar a
tal conclusão é necessário aceitar uma premissa alheia ao sistema cristão? Esta
é uma exigência irracional por parte do cético.
[...] A Bíblia indica que há razões porque Deus
permite que o mal continue temporariamente. Uma dessas razões é para que Deus
possa mostrar misericórdia às pessoas más, dando-lhes uma oportunidade para se
arrepender e mudar seus caminhos, antes de julgá-las. Essa última noção deveria
fazer o crítico parar para pensar. Quando ele exige que Deus elimine o mal de imediato,
ele deveria considerar se há ou não algum mal dentro de si mesmo. Uma exigência
para que Deus elimine todo o mal de antemão poderia se tornar uma exigência
para que Deus assim elimine o próprio cético também.
A resposta
conclusiva para o problema do mal no mundo está nas seguintes premissas:
1 – Deus é
absolutamente bom e deseja derrotar o mal.
2 – Deus é
onipotente e é capaz de derrotar o mal.
3 – O mal ainda não foi derrotado.
4 – Portanto, um
dia o mal será derrotado.
“O poder e perfeição infinitos de Deus
garantem a derrota final do mal. O fato de não ter acontecido ainda não diminui
de forma alguma a certeza de que o mal será derrotado. [...] O Deus teísta pode derrotar o mal, e fará isso. Sabemos disso porque ele é absolutamente
bom e quer derrotar o mal. E, por ser onipotente, ele é capaz de derrotar o
mal. Portanto, ele o fará. A garantia de que o mal será derrotado é a natureza
do Deus teísta”. (GEISLER, 2002, p.537).
BIBLIOGRAFIA PARA CONSULTA
FERREIRA, Franklin; MYATT, Alan. Teologia
sistemática: Uma análise histórica, bíblica e apologética para o contexto atual.
São Paulo: Vida Nova, 2007.
GEISLER, Norman L. Enciclopédia de Apologética. São Paulo: Vida. 2002.
GEISLER, Norman L. FEINBERG, Paul D. Introdução à Filosofia: Uma perspectiva
cristã. Reimpressão. São Paulo: Vida
Nova. 1989.
MORELAND, J. P. CRAIG, William Lane. Filosofia
e Cosmovisão Cristã.
São Paulo: Vida Nova. 2005.