O Pr. Gilson Soares dos Santos é casado com a Missionária Selma Santos, tendo três filhos: Micaelle, Álef e Michelle. É servo do Senhor Jesus Cristo, chamado com santa vocação. Bacharel em Teologia pelo STEC (Seminário Teológico Evangélico Congregacional), Campina Grande/PB; Graduado em Filosofia pela UEPB (Universidade Estadual da Paraíba); Pós-Graduando em Teologia Bíblica pelo CPAJ/Mackenzie (Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper). Professor de Filosofia e Teologia Sistemática no STEC. Professor de Teologia Sistemática no STEMES, em Campina Grande - Paraíba. Pastor do Quadro de Ministros da Aliança das Igrejas Evangélicas Congregacionais do Brasil (AIECB). Pastoreou a Igreja Evangélica Congregacional de Cuité/PB, durante 15 anos (1993-2008). Atualmente é Pastor Titular da Igreja Evangélica Congregacional em Areia - Paraíba.

9 de dezembro de 2014

Evangélicos com alma católica


EVANGÉLICOS COM ALMA CATÓLICA

Pr. Gilson Soares dos Santos

Dia 08 de Dezembro de 2014, trânsito congestionado na pequena cidade de Areia, na Paraíba: motos, ônibus, carros de passeio, caminhões-pipa, carros de transporte alternativo e pedestres. Motivo? Festa da padroeira da cidade, denominada senhora da conceição. Fiquei observando da varanda do apartamento onde moro a correria, o stress dos motoristas, a tentativa de alguns no propósito de “desatar o nó” que havia se formado no trânsito. Fiquei por algum tempo pensando sobre os eventos católicos, suas conquistas, seus dias feriados no calendário. Mas também fiquei pensando na grande influência dessa religião sobre a nação brasileira. Meu pensamento continuou no dia seguinte. Resolvi fazer uma leitura em um livro evangélico, O que estão fazendo com a igreja, de autoria do Pr. Augustus Nicodemus Lopes. Nesse livro, no capítulo dois, que traz o título “A alma católica dos evangélicos no Brasil”, o reverendo trata dessa influência católica na nação brasileira, especificamente sobre muitos que se declaram evangélicos. Resolvi postar uma síntese sobre como Nicodemus trata o tema.

Para Nicodemus (2008, p.25), “os evangélicos nunca conseguiram se despir totalmente da influência do catolicismo romano.”, isto, obviamente, explica a crise pela qual a igreja evangélica brasileira se encontra. Isso não quer dizer, segundo o autor, que não tenha acontecido o novo nascimento no evangélico, pois, “Alguém pode ter sido regenerado pelo Espírito e ainda continuar, por um tempo, a enxergar as coisas com os pressupostos antigos.” (LOPES, 2008, p.25). Ele elenca algumas heranças católicas que teimam em estar na alma evangélica brasileira:

1 – O gosto por bispos e apóstolos

Os brasileiros, seguindo o sistema papal, têm gosto por bispos, catedrais, pompas e rituais. Os evangélicos tendem para o mesmo, por isso é fácil aceitar bispos e apóstolos que se autonomearam assim. Infelizmente, “A doutrina reformada do sacerdócio universal dos crentes e a abolição da distinção entre clérigos e leigos ainda não permearam a cosmovisão dos evangélicos no Brasil, com poucas exceções.” (idem, p, 26).

Mesmo encontrando nas Escrituras que um dos requisitos para o apostolado é ser testemunha da ressurreição de Cristo (Atos 1.21-22); mesmo sabendo que todos os apóstolos viram o Cristo ressurreto, inclusive Paulo, (I Co 15.5-8); mesmo sendo orientados que o cristianismo histórico sempre entendeu que Paulo foi o último dos apóstolos; muitos chamados evangélicos brasileiros aceitam em seu meio pessoas que se autodeclaram apóstolos.

2 – A ideia de que pastores são mediadores entre Deus e os homens

“No catolicismo, a igreja e mediadora entre Deus e os homens e transmite a graça divina mediante os sacramentos, as indulgencias. as orações. É através dos sacerdotes católicos que essa graça é concedida, pois são eles que, com suas palavras, transformam na missa o pão e o vinho no corpo e no sangue de Cristo; que aplicam a agua benta no batismo para remissão de pecados; que ouvem a confissão do povo e pronunciam o perdão. Em alguns casos, o padre é visto como "outro Cristo", um canal de mediação entre o rebanho e Deus.” (idem, p.27).

Os evangélicos assimilaram essa tendência católica com poucas alterações. Basta ver que muitos só acreditam na oração do pastor, de preferência com imposição das mãos. O neopentecostalismo tem explorado esse ranço católico, fazendo o fiel acreditar que a oração do “obreiro”, do “bispo” ou do “apóstolo” é mais poderosa do que a oração dos demais crentes.

3 – O misticismo supersticioso no apego a objetos sagrados

“O catolicismo no Brasil, por sua vez influenciado pelas religiões afrobrasileiras, semeou misticismo e superstição durante séculos na alma nacional, enaltecendo milagres de santos, posse de relíquias, aparições de Cristo e de Maria, unção e santificação de objetos, água benta, entre muitos outros.” (ibidem, p.28).

Quem disse que muitas igrejas que se declaram evangélicas não têm feito o mesmo? Copo d’água fluidificada, rosa ungida, sal grosso, pulseiras abençoadas, galhos de arruda, pentes santos do kit de beleza da Rainha Ester, oração nos montes, óleos ungidos, água do Jordão, cajado de Moisés, patuás, amuletos, dentes de alho, martelinho da prosperidade, toalha do ‘apóstolo’, etc. Toda essa herança católica está na alma de muitos evangélicos.

4 – A separação entre sagrado e profano

Para o católico, sagrado é tudo aquilo que substanciado na Santa Igreja. Tudo aquilo que a gente vai fazer na igreja é sagrado. Tudo o que acontecer fora disso é profano. Nesse sentido, trabalho, estudos, as ciências, tudo é profano.

“Hoje, os evangélicos parecem partilhar a mesma visão. Falta-nos uma mentalidade que integre a fé às demais áreas da vida, conforme a visão bíblica de que tudo é sagrado. Por exemplo, na área da educação, temos por séculos deixado que a mentalidade humanista secularizada, permeada de pressupostos anticristãos, eduque nossos filhos, do ensino fundamental ate o superior.” (Idem, p.29).

Uma coisa deve ficar clara: o autor não está defendendo que devemos aliar as coisas pecaminosas às coisas de Deus, no propósito de acabar com a dicotomia sagrado/profano. O problema é que muitos evangélicos demonizam tudo aquilo que não está subjugado à igreja. Segundo a Bíblia, não há, para o verdadeiro cristão, uma separação entre sagrado e secular, pois pertencemos a Cristo em tudo o que fazemos na igreja ou fora dela, porém o cristão deve manter-se longe do pecado e das corrupções do mundo.

5 – Somente pecados sexuais são realmente graves

No catolicismo, os pecados punidos são aqueles relacionados à área sexual.

“Nas igrejas evangélicas - onde se sabe que, segundo a Bíblia, todo pecado é odioso e que quem guarda toda a lei de Deus e quebra urn só mandamento e culpado de todos - é raro que alguém seja disciplinado, corrigido, admoestado, destituído ou despojado por pecados como mentira, preguiça, orgulho, vaidade, maledicência, entre outros. As disciplinas eclesiásticas objetivam, via de regra, pecados de natureza sexual, como adultério, prostituição, fornicação.” (Idem, p.30).

O Pr. Augustus Nicodemus (idem, p.31), conclui o capítulo dois da seguinte forma:

‘Um dos efeitos mais destrutivos dessa mentalidade romanista e que
pavimentou em vários aspectos o caminho para a entrada do liberalismo teológico no cenário evangélico. Pois o ponto central dessa mentalidade e, em ultima analise, o enfraquecimento das Escrituras como a Palavra de Deus, a única regra de fé e prática. A autoridade e a mediação dos bispos e apóstolos, o uso de objetos ungidos como pontos onde a fé se apoia, a ênfase em determinados pecados em detrimento de outros igualmente condenados na Bíblia serviram para enfraquecer a autoridade das Escrituras dentro do evangelicalismo. Assim, o catolicismo preparou os evangélicos para aceitarem outra fonte de autoridade além da Bíblia. Nesse contexto, a tarefa dos liberais, de desacreditá-la sutilmente como a infalível e autoritativa Palavra inspirada de Deus, tornou-se muito mais fácil, relativizando seu sentido e expurgando-a de seu caráter normativo.”

E aqui concluímos essa postagem que chama a atenção para a necessidade urgente de a igreja evangélica brasileira desvencilhar-se do ranço católico romano. Não para que sejamos anticatólicos, mas para que sejamos bíblicos, cada vez mais bíblicos.


BIBLIOGRAFIA

LOPES, Augustus Nicodemus. O que estão fazendo com a igreja: ascensão e queda do movimento evangélico brasileiro. São Paulo: Mundo Cristão. 2008.