O Pr. Gilson Soares dos Santos é casado com a Missionária Selma Santos, tendo três filhos: Micaelle, Álef e Michelle. É servo do Senhor Jesus Cristo, chamado com santa vocação. Bacharel em Teologia pelo STEC (Seminário Teológico Evangélico Congregacional), Campina Grande/PB; Graduado em Filosofia pela UEPB (Universidade Estadual da Paraíba); Pós-Graduando em Teologia Bíblica pelo CPAJ/Mackenzie (Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper). Professor de Filosofia e Teologia Sistemática no STEC. Professor de Teologia Sistemática no STEMES, em Campina Grande - Paraíba. Pastor do Quadro de Ministros da Aliança das Igrejas Evangélicas Congregacionais do Brasil (AIECB). Pastoreou a Igreja Evangélica Congregacional de Cuité/PB, durante 15 anos (1993-2008). Atualmente é Pastor Titular da Igreja Evangélica Congregacional em Areia - Paraíba.

15 de fevereiro de 2017

Quem disse que Jonathan Edwards lia os seus sermões ao pregá-los para a igreja?

QUEM DISSE QUE JONATHAN EDWARDS LIAS OS SEUS SERMÕES AO PREGÁ-LOS PARA A IGREJA?

Pr. Gilson Soares dos Santos

É comum entre os que se interessam pela vida e obra de Jonathan Edwards (1703-1758), pastor congregacional, teólogo calvinista e um dos maiores filósofos norte-americano, descobrir que ele não pregava livremente seus sermões quando ministrava à igreja, ao contrário, lia-os integralmente. Tornou-se comum acreditar e divulgar que Edwards dependia inteiramente de um manuscrito que ele tinha que erguer ao rosto enquanto pregava. Muitos até acrescentam que esse servo de Deus era demasiadamente tímido, por isso não queria encarar a congregação, refugiando-se por trás dos seus manuscritos.

Alguns pregadores na atualidade fazem uso deste recurso, isto é, quando ministram a Palavra à igreja fazem a leitura do sermão quase integralmente, e alegam que homens de Deus fizeram uso desse expediente no passado, citando Edwards como um deles.

Embora particularmente não faça uso dessa técnica, não sou contra esta maneira de ministrar a Palavra. Porém não encontro respaldo em Edwards para justificar a prática de ler os sermões.

Iain H. Murray nos apresenta uma série de fatos que vão contra essa a suposição de que Jonanthan Edwards dependia insatisfatoriamente de um manuscrito para pregar.

1_ De onde veio a hipótese

A hipótese de que Edwards lia os seus sermões vem de um texto escrito por Samuel Hopkins, que morou um período com o pastor congregacional. No texto ele não diz explicitamente que o ministro lia os sermões, mas deixa subentendido. Veja o que diz o texto:

Ele escreveu os seus sermões e com uma letra tão fina e ilegível que só podiam ser lidos se fossem aproximados dos olhos. (frase Samuel Hopkins, citada por Iain H. Murray.[1].

À partir dessa citação de Hopkins se propagou o rumor de que o pastor Jonathan Edwards pregava os seus sermões, lendo-os para a congregação. A suposição também advém da comprovação de que o pregador de Northampton deixou, de fato, escrito grande parte dos seus sermões.

2_ Fatos que objetam a hipótese

O biógrafo Iain H. Murray, pastor britânico (nascido em 1931), apresenta alguns fatos que põem em dúvida a hipótese de que Edwards lia dependentemente seus sermões. Vejamos cinco fatos apresentados por Iain Hamish Murray, em seu livro “Jonathan Edwards: uma nova biografia”:[2]

a)_ Primeiro Fato

O avô de Jonathan Edwards, Solomon Stoddard, era contra pregadores que liam os sermões. Ele chegou a escrever energicamente contra esses pregadores. Ele odiava pregação enfadonha. Entretanto, Stoddard entregou o púlpito a seu neto, Jonathan Edwards. Será que, depois de escrever contra pregadores leitores, o velho Solomon entregaria o púlpito da igreja a um deles?

b)_ Segundo Fato

O próprio Edwards acreditava que a pregação não é a mesma coisa que ler um livro. Segundo o próprio Jonathan Edwards, a Palavra deveria ser aberta, aplicada e inculcada nas pessoas. Ele defendia a aplicação específica e vivida da Palavra de Deus.

c)_ Terceiro Fato

Os sermões de Edwards, depois de que ele veio a Northampton, eram escritos num livreto de 24 páginas e, de fato, era tão pequeno que podia ser “empalmado”, quase sem ser visto. A única explicação para isso é que ele não queria exibir seu uso de anotações. Essa atitude seria inútil se ele diminuísse o tamanho do livreto e tivesse que ler palavra por palavra do manuscrito.

d)_ Quarto Fato

A partir de 1741 Edwards parou de escrever seus sermões na íntegra. Ele passou a escrever apenas anotações em um esboço. Um terço dos seus manuscritos eram apenas esboços. De 1741 em diante haviam poucos sermões de Jonathan Edwards que pudessem ler lidos palavra por palavra.

e)_ Quinto Fato

Não há narrativas de testemunhas oculares da leitura de um sermão por Edwards. Ao contrário, um ouvinte de seus sermões disse que ele não usava gestos quando pregava mas olhava para a frente.

Então, podemos entender que o escrito de Samuel Hopkins foi a causa que levou muitos à dedução infundada de que o pregador e pastor congregacional Jonathan Edwards precisava ler seus sermões.



[1]  MURRAY, Iain H. Jonathan Edwards: uma nova biografia. São Paulo: PES. 2015. P.220.
[2]  MURRAY, Iain H. Jonathan Edwards: uma nova biografia. São Paulo: PES. 2015. P.220-222.