O Pr. Gilson Soares dos Santos é casado com a Missionária Selma Santos, tendo três filhos: Micaelle, Álef e Michelle. É servo do Senhor Jesus Cristo, chamado com santa vocação. Bacharel em Teologia pelo STEC (Seminário Teológico Evangélico Congregacional), Campina Grande/PB; Graduado em Filosofia pela UEPB (Universidade Estadual da Paraíba); Pós-Graduando em Teologia Bíblica pelo CPAJ/Mackenzie (Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper). Professor de Filosofia e Teologia Sistemática no STEC. Professor de Teologia Sistemática no STEMES, em Campina Grande - Paraíba. Pastor do Quadro de Ministros da Aliança das Igrejas Evangélicas Congregacionais do Brasil (AIECB). Pastoreou a Igreja Evangélica Congregacional de Cuité/PB, durante 15 anos (1993-2008). Atualmente é Pastor Titular da Igreja Evangélica Congregacional em Areia - Paraíba.

15 de junho de 2012

Hans Jonas e o Princípio da Responsabilidade: Uma Ética Para a Civilização Tecnológica


HANS JONAS E
O PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE: UMA ÉTICA PARA A CIVILIZAÇÃO TECNOLÓGICA

 Gilson Soares dos Santos

            A ética de Hans Jonas, que é a ética da responsabilidade (principalmente resposabilidade com a natureza), traz consigo a necessidade de um sujeito consciente que não é imediatista, não espera resultados a curto prazo. Sua ética busca alertar para a técnica moderna que trabalha tanto sobre a natureza não humana quanto sobre a natureza humana, porém sem refletir. Ele censura o abuso do domínio do homem sobre a natureza causando sua destruição. Por isso sua ética da responsabilidade vem, sobretudo, exigir que o homem contemporâneo, que nega o objeto do saber, entenda que "quando menos acreditamos na sabedoria, mais dela precisamos". Sua ética também conclama o homem a perceber que os resultados que desejamos a curto prazo podem trazer os prejuizos que chegarão a longo prazo. Por isso ele critica a ética do passado que preocupava-se apenas com o momento. O Princípio da Responsabilidade de Jonas é uma avaliação extremamente crítica da ciência moderna e de seu braço armado, a tecnologia.

Hans Jonas formula sua ética da responsabilidade recorrendo ao famoso canto do coral da Antígona, de Sófocles, e o poder do homem sobre a natureza. Porém, o domínio que o homem exerce sobre a natureza levou-o a violar essa mesma natureza, esquecendo-se que faz parte dela. Essa violação da natureza, no passado não significa para o homem uma violação, pois sua civilização (seu reino) era tão pequeno diante da grande extensão da natureza. Sua intervenção na natureza, em tempos passados, como ele próprio a via, era muito superficial e incapaz de prejudicar o equilíbrio natural. A interferência humana sobre esta natureza era mínima. Isto porque o homem utilizava-se de seus recursos apenas para extrair suas necessidades básicas, pois sua atividade era insignificante diante da estabilidade natural. Sendo assim, a Técnica que o homem possuía não se tornava preocupação no que diz respeito à interferência do andar natural. No entanto, o artefato das cidades, o processo das civilizações tomou proporções gigantescas, e aquela atitude inicial que segue uma trajetória de conquistas infinitas torna-se uma violação perigosa. O pequeno espaço criado pelo homem tornou-se a cidade dos homens. Para este homem, a natureza não era objeto da responsabilidade humana, pois cuidava de si mesma e ainda cuidava do homem. A ética tinha a ver com o momento, com o imediato, com a obra do homem, a maior dessas obras era a cidade. O homem cria o seu artefato (a cidade) que o caracteriza como ser social, ou seja, a capacidade de viver em sociedade lhe atribui tal característica. Era nisso que repousava a ética tradicional, condicionada ao agir humano.

            Hans Jonas critica as éticas tradicionais, julgando-as incompletas. Por quê? Porque o agir bem da ética tradicional estava condicionado ao outro, no relacionamento do homem com o homem, era o homem até então o principal objeto ético, sendo uma ética antropocêntrica. Todas as éticas tradicionais obedeciam as seguintes premissas: A condição humana, resultante da natureza do homem e das coisas, permanecia fundamentalmente imutável para sempre; Baseado nesse pressuposto, podia-se determinar com clareza e sem dificuldade o bem humano; O alcance da ação humana e de sua conseqüente responsabilidade estava perfeitamente delimitado. E a relação do homem com a natureza? Sendo excludente, a ética tradicional é conceituada pelo autor como sendo incompleta. Além do mais, apresentava que o bem e o mal, com o qual o homem tem que se preocupar, evidenciava-se na ação. A ética era bem mais prática, sem teorias, sem refletir. O agir bem era imediatista, não havia uma reflexão quanto ao futuro. Para que o homem soubesse se sua ação era boa ou má era somente esperar os resultados desse contexto de curto prazo.

            Jonas formula sua ética da responsabilidade. Aponta que a visão antropocêntrica e voltada para o imediato foi mudada drasticamente com a moderna intervenção tecnológica, que coloca a natureza para uso humano e passível de ser alterada radicalmente. A natureza é vulnerável, isso fica evidente no Século XX. Assim, para ele, o homem passou a manter com a natureza uma relação de responsabilidade, pois ela se encontra sob seu domínio. O homem detém o poder sobre a natureza, por isso deve ser responsável sobre ela. Para que haja responsabilidade é preciso existir um sujeito consciente.

            Hans Jonas, porém alerta para que a responsabilidade com a natureza e a preservação não estejam ligadam à ética utilitária. Não devemos preservar a natureza com interesses utilitários. E ele (Jonas) nos dá o exemplo de que “não matar a galinha dos ovos de ouro por causa dos ovos de ouro, é utilitário”. Se a ética é utilitária, continua sendo antropocêntrica. Se o interesse em preservar a natureza é interesse moral, a orientação antropocêntrica é mantida.

            A vocação humana tornou-se puramente tecnológica. A máquina assume um papel mais significativo do que o próprio homem. Não é mais o homo sapiens que está em cenário, é sim o homo faber. Assistimos a máquina assumindo as atividades humanas. Sempre e em todo lugar, o aparato tecnológico está presente e tem peso decisivo.

            A mudança tecnológica interfere em nossos atos e o efeito não é somente para aquele momento. Pode interferir em nossas vidas ou na vida do outro. A responsabilidade de cada ser humano para consigo mesmo é indissociável daquela que se deve ter em relação a todos os demais. E é preciso pensar e refletir que o uso desenfreado da tecnologia, da máquina, que traz resultados urgentes, não vale os prejuízos que acarretarão no futuro.

            É preciso haver controle. O saber técnico deve ser acompanhado de um saber previdente. É importante reconhecer o ser e ter o dever. É preciso reconstruir a responsabilidade que é boa por si mesma

  
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

JONAS, Hans. Princípio da responsabilidade: ensaio de uma ética para a civilização tecnológica. Rio de Janeiro: PUC - Rio, 2006.