O Pr. Gilson Soares dos Santos é casado com a Missionária Selma Santos, tendo três filhos: Micaelle, Álef e Michelle. É servo do Senhor Jesus Cristo, chamado com santa vocação. Bacharel em Teologia pelo STEC (Seminário Teológico Evangélico Congregacional), Campina Grande/PB; Graduado em Filosofia pela UEPB (Universidade Estadual da Paraíba); Pós-Graduando em Teologia Bíblica pelo CPAJ/Mackenzie (Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper). Professor de Filosofia e Teologia Sistemática no STEC. Professor de Teologia Sistemática no STEMES, em Campina Grande - Paraíba. Pastor do Quadro de Ministros da Aliança das Igrejas Evangélicas Congregacionais do Brasil (AIECB). Pastoreou a Igreja Evangélica Congregacional de Cuité/PB, durante 15 anos (1993-2008). Atualmente é Pastor Titular da Igreja Evangélica Congregacional em Areia - Paraíba.

9 de agosto de 2012

Acredito em Culto ao Ar Livre


CONSIDERAÇÕES SOBRE CULTO AO AR LIVRE

Pr. Gilson Soares dos Santos

Sou daqueles pastores que acreditam no efeito positivo do "culto ao ar livre". Acredito na eficiência desse tipo de evangelização. Afinal, Jesus deu a ordem para que pregássemos o Evangelho, não definiu uma única maneira de como fazer essa pregação, estando a Bíblia recheada de exemplos de como evangelizar. Uma coisa porém é certa: se o modelo for contrário às Escrituras não é pregação do Evangelho. 

O Culto ao ar livre possui base bíblica. É eficiente, desde que seja feito da maneira certa. Pois já vi e ouvi muitos cultos ao ar livre que, na verdade, eram uma forma de contra-evangelização. O culto ao ar livre não pode ser contraproducente, ao contrário, precisa ser feito com muito propriedade e qualidade em tudo. 

Para aqueles que se interessam por essa forma de evangelização, recomendo que dê uma lida no texto a seguir que trata sobre o culto ao ar livre: o que é e como fazê-lo? 


CONSIDERAÇÕES SOBRE O CULTO AO AR LIVRE

Michael Green, em seu livro intitulado Evangelismo na Igreja Primitiva, assim começa a falar da história do ar livre: “Além de trabalhar através das sinagogas, os discípulos seguiam seu mestre pregando ao ar livre. O livro de Atos dos Apóstolos nos dá inúmeros exemplos disto, como é o caso de Jerusalém, Samaria, Listra e Atenas.

Em seguida, o mesmo autor nos fornece importantes informações históricas sobre o uso da pregação ao ar livre pelos cristãos primitivos:

1 – O “ar livre” já vinha dos judeus, que o usavam em qualquer lugar: jardins, pátios, beira de rios e mercados.

2 – Mais tarde, Irineu tinha o costume de pregar em mercados e a céu aberto em pequenas vilas.

3 – Cipriano chegou a correr sérios riscos de ser preso por pregar em mercados abertos.

Na verdade, as grandes pregações de Jesus foram feitas ao ar livre, pois não contava com um templo para fazê-las. Basta lembrarmos das bem aventuranças, quando ele assentou-se no monte e falou à multidão que ali se ajuntou (Mt 5.1-12).

Muitos pregadores hoje fazem certas restrições quanto a este tipo de evangelismo. Alguns acham que é um processo de evangelização ultrapassado e não raro com risco de cair no ridículo.

O grande evangelista Korky Davey declarou num dos congressos de Amsterdã:

A evangelização ao ar livre é considerada por muitas pessoas como algo ineficaz. Se eu lhe perguntasse: ‘qual é a ideia que você faz de um evangelista ao ar livre’?, você pintaria o retrato de um home de pé sobre uma caixa de sabão, em uma esquina, pregando para um poste. De fato, é o que acontece na Europa Ocidental. Por isso, quando Deus me colocou nas ruas para pregar, tomei cuidado a esse respeito”.

Principalmente no Brasil, temos constatado que este tipo de evangelismo é ainda uma bênção. E a razão principal é porque as praças no Brasil estão sempre cheias de gente, principalmente nas cidades grandes. Aliás, este é um fenômeno que não ocorre em outros países. Ademais, outros movimentos estão usando as praças: políticos, artistas e até grevistas. Num país de índice populacional tão grande como o nosso e onde a grande maioria do povo depende de condução coletiva para ir ao trabalho, temos sempre uma verdadeira enchente de gente nas ruas e nas praças. Isto não acontece em países de nível econômico mais elevado, em que o povo não larga seu automóvel e poucas vezes está na rua. Se chegarmos a uma praça na cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, na hora em que o povo está esperando o ônibus, naquelas longas filas, poderemos alcançar milhares de pessoas de uma só vez.

Temos tido experiências marcantes com este método de evangelismo em grandes centros como São Paulo e Rio de Janeiro. Algumas vezes, pessoas em situação desesperadora são alcançadas quando jamais o seriam num evangelismo pessoal.

I – Planejamento de Culto ao Ar Livre

Muitas vezes este tipo de programa evangelístico não dá certo por causa das improvisações. Temos que partir para a organização e planejar bem o nosso culto ao ar livre. Nada de pegar uma Bíblia de última hora e querer arrebanhar alguns crentes para um grupinho insignificante ir cantar num cantinho da praça.

Eis algumas providências de planejamento nesta área:

1.1 – Preparação da igreja pra participar desse programa com conhecimento de causa

É necessário um trabalho de conscientização da igreja. Ela deve acreditar no programa e envolver-se com ele. O pastor deve pregar alguns sermões sobre o assunto.

1.2 – Formação de equipes para cada setor

Naturalmente, a igreja deve ter um departamento de evangelismo. O seu diretor deve promover toda essa organização.

Cada área de cuidado especial pode exigir uma equipe própria. Nas circunstâncias modernas em nosso país, algumas providências:

·         Licença na repartição pública própria. Geralmente o Departamento de Parques e Jardins quer que lhe seja comunicado o evento, dependendo da importância da praça.
·         Serviço de som. Em alguns casos, a própria prefeitura dispõe de um setor para providenciar o som.
·         Algumas praças possuem um coreto que igualmente poderá ser usado, com a devida licença do órgão público competente.

1.3 – Escolha do local

É evidente que, dependendo do local, as providências especiais acima mencionadas vão ser menos ou mais exigentes. Mas é importante que se escolha o ponto de reunião previamente. A igreja deve saber como chegar ao local, o que deve ser providenciado e anunciado.

1.4 – O programa

É necessário que seja elaborado antecipadamente. Algumas providências devem ser tomadas e uma delas é a de quem vai pregar. O pregador de “ar livre” precisa preparar-se tanto quanto o pregador de púlpito. Por isso, é necessário que seja escalado ao se elaborar o programa e, ainda, ter um substituto para o caso de uma emergência.

Do programa deve constar também a parte musical, principalmente a participação especial. Haverá música para o povo cantar e haverá música para conjuntos, solistas e outras participações especiais. Tudo isto deve ser programado e tratado antes. Aliás, é aconselhável, em ar livre, usar partes musicais especiais, em vez de escolher um pequeno grupo para cantar, o que nem sempre dá certo. Também podem ser incluídas poesias no programa. Trata-se de um excelente instrumento de evangelização e que tem sido esquecido. Um bom declamador ou uma boa declamadora fará sucesso no ar livre.

1.5 – Literatura

Sempre que possível, o tema do folheto deve ser considerado em relação ao tipo de ouvintes que vamos ter. E então deve-se providenciar a carimbagem dos folhetos. Isto é muito importante.

1.6 – Aconselhamento

A equipe de aconselhamento deve estar preparada. Se a igreja dispuser de uma equipe muito grande, pode-se até mesmo elaborar uma escala. Por outro lado, ir para a praça sem equipe de aconselhamento é jogar frutos fora.

1.7 – O dia certo

A fixação da data não pode ser esquecida. Mesmo que a igreja já tenha dias fixos, é sempre bom mencioná-los e fazer a devida promoção. Ir para a praça com pouca gente porque a data entrou em conflito com outros eventos da igreja não faz parte do bom senso. O ideal seria as datas de ar livre irem para o calendário de atividades da igreja.

II – Aspectos físicos do culto ao ar livre

Não parece nada, mas algumas providências pequenas podem melhorar o padrão dos nossos cultos ao ar livre.

2.1 – Arranjo dos participantes

Os participantes do ar livre (pregador, cantores e outros) devem se posicionar em lugar de destaque visual. Se houver coreto, lá ficarão eles e a assistência ficará na parte mais baixa, voltada para os participantes.

Na falta de coreto, ou de algo que possa criar distinção física do local, a assistência formará uma meia lua e os participantes se colocarão no meio, de tal maneira que os visitantes que forem chegando completem o círculo. [...] É importante a visão para a eficiência da comunicação.

2.2 – Serviço de som

Seja o som fornecido pela prefeitura, ou instalado pela igreja ou por companhia particular, deve ser testado com bastante antecedência. Nada existe sujeito a tanto contratempo como o serviço de som. Na última hora, tudo pára. Numa praça, vamos depender do som. É bom que se disponha de um ou dois microfones de reserva. Também é de bom conselho não ficar alterando o nível do som. Um dos hábitos das pessoas que cuidam do som é nunca parar de mexer no painel de controle.

2.3 – Placa identificativa

Algumas igrejas usam levar uma placa montada sobre tripé, que a identifica para os frequentadores da praça. Esta prática é útil, principalmente em logradouros que são usados por diversas seitas. Muitas vezes sua igreja poderá ser confundida por uma seita, o que não seria desejável.

III – Principais elementos do programa

Evidentemente, este é um programa evangelístico, por natureza, mas, para melhor atingir seus objetivos, poderá compor-se de partes variadas.

3.1 – Recursos audiovisuais

O culto ao ar livre deve ser atraente, dinâmico e espiritual ao mesmo tempo. Se ele carecer de um bom nível, não vai atrair ninguém. Há muitos recursos audiovisuais, desenhos em prancha, fantoches, “mágicas”, e até jograis (coreografias), se bem curtos.

É curioso que até mesmo coisas próprias para o gosto das crianças possam agradar também os adultos, como é o caso de fantoches. Mesmo porque, atraindo as crianças numa praça, os pais virão junto e se sentirão gratificados também.

3.2 – Músicas

Estas devem ser escolhidas de acordo com o tem do programa geral. O responsável por esta área deve ter o cuidado de contar com um participante eficiente. Se um cantor não tiver a voz clara, dificilmente se comunicará bem com o público.

3.3 – A mensagem

Pede-se que a mensagem seja curta e objetiva, transmitida no máximo em 15 minutos e apresentada com frases curtas, simples e claras. Aqui funciona o mesmo princípio da mensagem escrita, conforme Habacuque 2.2. Até quem passar correndo poderá gravar uma frase do pregador.

3.4 – Texto bíblico

Quem abrir o programa pode ler o texto bíblico que será lido também pelo pregador. Bíblia nunca é demais. No entanto, deve-s ter o cuidado de escolher textos curtos e simples, que digam, por si mesmos, algo sobre o que se quer dizer. O pregador deverá, no decurso da mensagem, repetir várias vezes o seu texto. Esse texto deverá ficar gravado na mente dos ouvintes. Não é aconselhável usar um texto muito longo nos cultos ao ar livre.

3.5 – Distribuição de literatura

Deve ser feita concomitantemente com o apelo final da reunião. Mas se algum assistente sair antes do término, a equipe própria deve estar preparada para entregar a essa pessoa um folheto. A distribuição durante o culto, principalmente durante a pregação, é contra indicada. As pessoas poderão se distrair com a leitura do folheto, em vez de prestarem atenção ao programa. É de grande eficiência a colocação de um membro um pouco afastado da concentração, oferecendo literatura aos assistentes que preferem não se aproximar do pregador.

3.6 – O apelo

O apelo sempre deve ser feito, ainda que venha a depender do tipo de ambiente. De qualquer maneira, é preciso que seja feito em termos claros. Primeiro, deve-se convidar as pessoas a aceitarem a Cristo como Salvador. Numa segunda oportunidade, pode-se chamar alguém que não quer decidir-se ao lado de Cristo, mas que gostaria de receber um Novo Testamento. É contra indicado, hoje em dia, o apelo para que se ore pelas pessoas. Por causa de certas seitas que abusam desse recurso, cresce nas pessoas assistentes um sentimento quase supersticioso: elas querem receber bênçãos e favores de Deus, mas não pensam em partir para um comprometimento com Deus. E não é isto que Jesus veio fazer. Ele veio promover, de fato, um comprometimento com as pessoas. Portanto, devemos ter cuidado com o tipo de apelo que fazemos.

3.7 – Encerramento

No encerramento do culto, o dirigente agradecerá a assistência e dará o endereço da igreja, assim como os horários de culto. Se for o caso, convidará os ouvintes a seguirem o grupo e participarem do culto da noite.

Havendo tempo disponível, o dirigente poderá mencionar a presença de membros da equipe de aconselhamento dispostas a ajudar pessoas desejosas de maiores esclarecimentos sobre a mensagem e sobre o evangelho.

CONCLUSÃO

Notemos que fazer um bom culto ao ar livre exige certos cuidados. Os tempos modernos requerem mais diligência de nossa parte para tais programas. E se levarmos a sério este tipo de evangelismo de massa, conseguiremos muitos frutos.

TEXTO RETIRADO DO LIVRO:

FERREIRA. Damy, Evangelismo Total. Rio de Janeiro: JUERP. 1991. pp. 104-109.